segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Lauro Atónito apresenta......
..."Wanda".
Os críticos babam-se e vertem outros líquidos acerca da película, pelo que me deixei convencer mais uma vez.
É o único filme de Bárbara Loden, actriz/realizadora, mulher de Elia Kazan, figura estranha e apelativa, que se reflecte e interroga no filme, "Wanda".
Wanda é uma tipa white trash no meio da Redneck America, que voga sem sentido à procura de qualquer coisa, um gajo qualquer a quem se agarrar, contra quem consiga saber quem ela própria é.
Esteticamente, é um filme meio amador, que tem a vantagem de nos mostrar uns planos que, tecnicamente, se calhar até são incorrectos, mas dão uma autenticidade que Hollywood não consegue (Dogma num filme de 1970). A cópia, em exibição no King, é uma bela merda, tanto em som como em imagem.
É um filme estranho, que não se explica, que dá momentos desgarrados, sem que se perceba para que servem alguns deles, sem um grande fio condutor, aparentemente quase sem argumento.
É supostamente anti-formalista mas depois espeta planos longuíssimos e chatos, tipo Manuel de Oliveira em versão camionista.
É um alien cinematográfico, experimental, niilista, às vezes irritante, muitas vezes chato, de vez em quando insinua um momento mágico. É esse um dos problemas, talvez o maior, insinua quase tudo e não diz quase nada, sem que as personagens tenham uma dimensão credível ou nos faça gostar delas ou odiá-las.
A opção de não se auto-explicar é muito louvável, pois não há nada de mais irritante do que aqueles filmes formatados para que tudo seja percebido por até um bosquímane de três anos, ou um americano de 16. Mas a subtileza é uma arte difícil, talvez a mais difícil de todas, e a "Wanda" falta o equilíbrio que o tornasse mais que um exercício interessante de 'low budget' da América profunda.
Fui vê-lo porque ouvi dizer que era uma obra-prima, o Y chamou-lhe "o melhor filme em cartaz" (como recusar sentença tão clara?), que era um filme diferente de qualquer outro.
Na minha modesta opinião não é um grande filme, não é uma obra-prima.
É, efectivamente, um filme estranho e diferente do que estamos habituados a ver, e suponho que isso faça valer o preço do bilhete.
Mas os gajos do Y enganaram-me outra vez!

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