segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Défice de coerência
Em vários sinais que se têm multiplicado, o Governo prepara-se para deixar cair o dogma do défice inferior a três por cento do PIB.
Aplaudo esta decisão, que sempre defendi.
No entanto, por que raio isto acontece agora?
Porque Bruxelas flexibilizou as regras, e o défice é para cumprir mas, se tal não for possível, não faz mal.
Ou seja, basicamente aquilo que vinha acontecendo até aqui, como provaram nos últimos anos a Alemanha e a França, que desrespeitaram o défice, não só não lhes aconteceu nada como mereceram de Portugal um voto de apoio nesse caminho.
Portugal, o país cujo Governo colocou na penúria, em nome de um estatuto de aluno bem comportado que não tem dinheiro para comer mas anda sempre bem vestido.
O altar do défice, em que o povo português foi sacrificado nos últimos anos, é o cúmulo da aberração tecnocrata dos conservadores que ocupam o Governo.
Dois anos depois, as contas públicas continuam tão desgovernadas como antes, mas vêm aí eleições.
Esta maioria defendia que os 3 por cento eram importantes, tinham de ser cumpridos porque espelhavam o empenho no equilíbrio das contas públicas. Foi conseguido à custa da venda de património DE TODOS NÓS, a situação fundamental está exactamente igual e o povo na miséria.
Com eleições à vista, afinal o défice não interessa nada.
Com mais esta prova de incoerência, cujo conteúdo saúdo, temos a derradeira prova de que andámos dois anos, e outros se seguirão, a passar mal em vão, em nome de um capricho, um slogan, um simples argumento político para poder dizer mal dos antecessores.

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