quinta-feira, 2 de setembro de 2004

Troca-tintas
Na quarta-feira, o primeiro-ministro proferiu afirmações que, para os mais crédulos, poderiam indiciar a abertura para uma mudança da lei sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Citemos.
"Devemos fazer a avaliação do que foi o resultado da aplicação da lei em vigor, que é uma avaliação que deve ser feita em permanência, e irmos preparando um novo tempo, porque nem as sociedades são estáticas, nem as leis são estáticas, nem os referendos são estáticos", acentuou Pedro Santana Lopes à saída de um encontro com o Presidente da República, no Palácio de Belém.
"Depois de abrir o ano parlamentar teremos ocasião de debater esta matéria com outra calma e outra serenidade", acrescentou Santana Lopes.
Mas hoje, apenas um dia depois, o senhor foi finalmente chamado à razão pelos beatos que abundam nos partidos da maioria, nomeadamente no CDS/PP.
Perante a imprensa, coube hoje ao secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, um boy chamado Domingos Jerónimo, clarificar o pensamento do primeiro-ministro (!!!!!).
Então clarifiquemos.
A lei não será nunca mudada na actual legislatura, que dura até 2006, porque "não poderá haver um mudar de posição em função dos compromissos que o anterior e o actual governo assumiram para esta legislatura".
Ou seja, a negociata política que esteve na base da coligação, deixando o Governo nas mãos do CDS, impede que se resolva um gravíssimo problema de justiça e de saúde pública, apesar de vários responsáveis, entre eles o primeiro-ministro, admitirem tacitamente que a lei terá de ser alterada.
Eles já vislumbram a razão, sabem que estão errados, mas estão dispostos a deixar que passem mais dois anos de mulheres julgadas e em risco de vida, até que termine (será?) um mero negócio entre dois partidos.

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