Crónicas americanas
Queria fazer um texto bom e significativo sobre o desfecho das eleições norte-americanas. Mas não consigo. Já tudo foi dito sobre o bronco e perigoso Bush e o absolutamente incompetente Kerry.
Bush ganhou as primeiras eleições ilegalmente, é burro, é estúpido, mentiu aos americanos e ao mundo e inaugurou um estilo que se julgava fora de moda: o estilo do quero, posso e mando, visto que sou o mais forte do recreio, valendo isto tanto para o meio ambiente como para as invasões militares e guerras preventivas afins.
E ainda assim ganhou.
Esta é a estranha e dolorosa verdade.
Respeito o veredicto, acreditando que a história o condenará. Mas os americanos, a quem competia decidir, fizeram-no, e isso não só merece respeito como mostra definitivamente daquilo que são feitos: Medo.
Segundo um inquérito hoje divulgado, foi o medo que determinou o voto.
Questionados sobre as motivações da escolha, em sondagens realizadas à boca das urnas, 85 por cento das pessoas que votaram em Bush citaram o medo do terrorismo contra 15 por cento para os eleitores de Kerry. É este o campo e o mundo dos Bushes deste mundo. É o mundo do medo, e de como fazê-lo trabalhar para nós.
É este o mundo que eu odeio e em que não quero viver. Porque acredito que os homens são irmãos, e que não temos de viver no terror permanente ou em oposição a alguém.
Liberdade é isso: não nos deixarmos guetizar num lado ou noutro, amando os americanos e odiando os árabes, ou vice-versa, mas sabermos que um homem não é um inimigo apenas porque fala de maneira diferente.
Não consigo nem quero odiar alguém que nunca me fez mal.
A liberdade não é isso. E, com as respeitáveis eleições de 2 de Novembro, os americanos tornaram-se definitvamente presas do medo, e perderam aquilo que mais dizem prezar, a liberdade.
Desta vez não havia mais desculpa: merecem tudo o que lhes poderá acontecer.
ps- espreitem o novo filme de Wim Wenders, "Terra da Abundância". Vale a pena.
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