Ainda o défice
Falemos claro: o défice existe. Pronto!
Mas será o défice importante? Ao nível a que tem determinado toda a política de Portugal, não. Obviamente não.
Bagão Félix ia vender uma batelada de prédios do Estado, para (mais) essa receita extraordinária entrar nas contas de 2004, para conseguir manter o défice abaixo dos 3 por cento do PIB. Mas, mais uma vez, seria um valor artificial, contabilístico, falso, em última análise.
Depois os jornais começaram a fazer notícias, a oposição a berrar, e afinal já não há venda, porque o Governo só descobriu agora que é um Governo de gestão.
Assim, considera não ter legitimidade para vender património a esta escala.
Então faz o quê? Assume que o défice é superior, como fizeram a França e a Alemanha, e sem quaisquer consequências práticas? Não, arranja outra maneira de continuar a mentir.
Afinal vai vender, a um consórcio bancário, o direito de exploração desses prédios, ocupados actualmente por inúmeros serviços do Estado (como o Instituto Camões ou o Instituto da Habitação), e pôr esses serviços a pagar uma renda, todos os anos.
Ou seja, temos algo que é nosso, mas vamos vender aos privados para arranjar dinheiro extra para o défice e passamos a pagar arrendamento de todos esses serviços, a esses privados que compram o património de todos os portugueses ao preço da uva mijona em saldo!
Ganda negócio, ó Félix!
A Grécia, tal como nós, andou uma data de anos a fingir que enganava a Europa, com défices controlados, para agora ser forçada a admitir que era mentira, pelo que está já a enfrentar as sanções.
Mas nós, como bom escuteiro, queremos ser mais papistas que o papa, e queremos ser o país mais pobre mas aparentemente mais cumpridor.
Espera-nos o mesmo destino da Grécia. Sermos apanhados mais tarde, mas entrentanto andámos não sei quantos anos a fazer o nosso povo passar mal.
Vendemos os prédios, para que as gerações futuras de contribuintes andem a pagar rendas aos privados.
Tudo em nome de uma ficção, e para que o senhor Félix possa mostrar o seu currículo, feito de números falsos, desemprego e fome.
Valerá isto tudo a pena?
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