segunda-feira, 14 de março de 2005

Journal Of An Idle Consultant

III. Cafeína

O verdadeiro idle consultant bebe entre quatro a seis cafés por dia. O mínimo obrigatório são: um café ao sair de casa, outro a meio da manhã entre as dez e meia e as onze e meia da manhã, um a seguir ao almoço e outro a meio da tarde.

Como se de um ritual maçónico se tratasse, cumpro diária e religiosamente a minha quota-parte de consumo diário de café. Tarefa árdua e extenuante, mas obrigatória, para que os sentidos estejam sempre alerta e permitam reagir prontamente a qualquer solicitação e aos milhares de informações que são despejados todos os segundos no monitor do meu computador. Guerras, inovações tecnológicas, convulsões políticas, quedas da bolsa, tudo passa diante dos meus olhos a velocidade vertiginosa qual carrossel da selva. Há que estar atento!

Todo o santo dia presto a vassalagem a essa espécie de rei tirano medieval do século XXI a quem chamam de Máquina de Café Automática. Prostro-me diante dela e em troca de dois cobres, ela com a sua magnificência e delicadeza frias do metal e plásticos da sua armadura encarrega-se de me dar tudo o que necessito, cafeína e mais cafeína. Por vezes qual cobrador de impostos indisposto leva-me mais do que as duas moedas de cobre. Vilanagem!. Apetece-me desafiá-la para um duelo ao nascer do sol, atrás da sala de reuniões. Sem testemunhas.Confesso no entanto que os seus botões e luzinhas, me intimidam... Tenho medo é um facto.

Muitas foram as noites em branco que passei a orquestrar a minha solene e doce vingança. Já pensei em envenená-la com pequenas moedas do Congo Belga, atacá-la com um extintor, abrir-lhe a sua enorme bocarra e obrigá-la a engolir neve carbónica até começar a vomitar capuccinos pela ranhura das moedas ou até pensei em desligá-la da corrente.

Não consigo. Sou um fraco! Mais uma vez me encontro curvado em sinal de obediência perante o monstro, enquanto retiro com todas as precauções mais um café das suas entranhas. Tenho medo que me arranque um braço e me perfure o baço. Tiro o café da sua boca, o monstro não me mordeu, nem me cuspiu, faço o caminho de regresso ao meu lugar. Sinto no meu pescoço duas luzinhas vermelhas que me seguem, um calafrio percorre-me a espinha, sento-me na minha cadeira e por cima do monitor lanço-lhe um olhar fulminante.Ela vê-me. Odeia-me. Não faz mal. O sentimento é reciproco.

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