sábado, 8 de outubro de 2005

A obscenidade

Em época de eleições, que como a dos incêndio este ano dura mais tempo, Portugal entrou definitivamente em modo esquizofrénico.
As autárquicas transformaram o país num esterco cujo fedor perturba os campos magnéticos.
E não estou a falar dos Isaltinos, dos Valentins, dos Avelinos e das Felgueiras, todos eles filhos pródigos deste sistema político, que não apenas abre espaço à corrupção mas incentiva-a, sendo ela a única forma de se fazer política e chegar aos lugares de cima. Mas este não é o principal problema. Isso é acessório, e até agradeço que sejam os corruptos que são e até que ganhem as suas eleições, para demonstrar que, obviamente, o crime compensa. Compensa porque, na política portuguesa, as carreiras são através dele construídas, e não de abnegação e filantropia.
Choca-me mais o que está oculto, porque ninguém no seu perfeito juízo pode acreditar que não haja muitos mais casos de corrupção política, sobretudo no fertil viveiro autárquico.
Mas a verdadeira obscenidade está em todo o lado. Vejo e ouço os relatos jornalísticos sobre a campanha autárquica: os candidatos, de todos os partidos, percorrem o país num louco frenesim; visitam mercados, escolas, hospitais, jardins, praças, avenidas, zonas pobres.
Em todas as visitas falam ao povo, os seus eleitores, como se lidassem com atrasados mentais (o que em muitos casos é verdade), prometendo uma solução para cada cantinho, um polícia em cada esquina, passeios limpos em cada rua, um jardim em cada bairro. Tudo é gravíssimo e tudo precisa de solução, desde as grandes obras à mudança de lâmpadas. E tudo isto se promete, em troca de um voto, com transacções de brindes pelo meio, desde os clássicos autocolantes e isqueiros até aos mais originais chouriços e robots de cozinha.
Esta é a verdadeira esquizofrenia. A compra dos votos, as promessas que, dois dias depois das eleições, estão esquecidas (mentira, as promessas são esquecidas no momento em que o candidato parte para outra visita, em que fará mais 500 promessas).
E depois, durante quatro anos, os políticos cagam e mijam em cima do povo, o mesmo povo que os aplaude nas ruas em troca de um avental de plástico e da ilusão de que eles, quem quer que sejam, se preocupam.
Eles prometem obras e cumprem beijinhos. Sabem que mentem, nos sabemos que eles mentem, toda a gente sabe que eles mentem. Mas o circo não pára.
Fátima Felgueiras?! Deixem-me rir, que ao menos para isso serve.
Não deixemos que este e outros folclores nos distraiam da verdadeira farsa.
Chega de obscenidade. Ou será que ainda não?......

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