quarta-feira, 12 de abril de 2006

É a cultura, otário!

Nas últimas semanas, muito se tem escrito acerca de Joe Berardo, do CCB, e da suposta subserviência deste último e do Estado aos desejos (caprichos?) do empresário, no que toca à sua colecção de arte.
Tudo porque boa parte do espaço do CCB fica ocupado pela colecção, e porque esta continua a pertencer a Berardo, tendo o Estado uma opção de compra daqui a 10 anos, sendo o preço definido pelo senhor Joe.
Pois bem.
Deixemo-nos de provincianismos. Joe Berardo tem uma colecção de arte sem paralelo no nosso país. Comprou-a com o seu dinheiro. Podia ter comprado empresas, ou uma montanha feita de merda, mas comprou arte, e sempre disse que queria ver as suas obras expostas em Portugal.
Há coisas piores.
A colecção fica na sua posse. Isto é perfeitamente natural, penso eu, se foi ele que a comprou. Por outro lado, só um idiota ia passar para as mãos do Estado português esse espólio. O Estado, dirigido por tipos como o Sócrates e o Cavaco (sim, lembram-se dele?), já mostrou que a Cultura não é, de forma alguma, a sua principal preocupação, pelo que não há qualquer motivo para que se defenda que seja ele a ficar com as obras.
E há ainda o CCB.
De há uns bons anos para cá, a malta só lá vai ver a Festa da Música, o World Press Photo e o Museu do Design (com as obras do Berardo), que é muito bom, de facto, e alguns ricos vão lá ver uns concertos a 50 euros o bilhete. É pouco, para um centro cultural de referência. Só com um bom acervo de obras o CCB pode entrar no circuito internacional da arte. Isto é, só tendo obras de referência, que se podem trocar temporariamente, o CCB tem capacidade de trazer a Lisboa colecções de grandes artistas. Mostra lá um Warhol no teu museu, dá cá um Dali, e assim sucessivamente.
É simples.
Toda a conversa da pseudo-subserviência do país face a Berardo é apenas isso, conversa.
O Estado tá-se bem cagando para a arte e para a cultura, pelo que é altura de nos deixarmos de hipocrisias.
Graças a Berardo (goste-se ou não), os portugueses (os lisboetas) terão à sua disposição um conjunto de obras que seriam impossíveis de ver aqui de outra forma.
Por mim, dêem-lhe o CCB.
Antes a ele que aos cabrões dos pseudos-ricaços que têm dominado o CCB.
Tenho dito.

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