terça-feira, 25 de abril de 2006

O Cravo

Nos jornais de hoje, especulava-se acerca de duas coisas: o que iria o presidente Cavaco Silva dizer no seu discurso na AR e se levaria ou não um cravo na lapela.
Vamos primeiro ao cravo.
É um pormenor, mas não deixa de ter o seu significado. Cavaco tornou-se o primeiro presidente da república a discursar no 25 de Abril sem cravo ao peito, e isso é significativo. Cavaco é a versão democrática e pussy do Salazar, pelo que o seu gesto é de total coerência em relação à sua matriz política. O cravo não é apenas uma flor. A esquerda deu-lhe uma aura mítica que em muito ultrapassa o seu sentido semiótico e a direita odeia-o profundamente e benze-se três vezes ao ver-lhe o vermelhusco. Cavaco sabia do significado da tualete, e fez a sua escolha. Coerente, como já disse, mas algo estranho se nos lembrarmos do seu ânimo a entoar “Grândola, Vila Morena”, durante a caça ao voto.
Mas, pior que este episódio, foi o discurso. Foi, tal como o próprio Cavaco, rígido, chato, cheio de lugares comuns, provinciano. Eu não defendo que estas ocasiões institucionais sejam necessariamente os eventos mais indicados para uma intervenção forte e definida do PR. Mas, tendo em atenção a intervenção inexistente de Cavaco até aqui, seria útil que o senhor finalmente dissesse alguma coisa, mesmo que fosse uma idiotice. E nem a esse nível o seu discurso chegou.

Três notas finais.

A primeira para Telmo Correia, o ex-ministro do Turismo, esse cargo-chave no Governo Portas, perdão, no Governo Santana.
Inspirado pela presença de Cavaco, o primeiro PR de direita, o Telminho conseguiu a proeza de fazer, em 5 minutos, um revisionismo histórico digno de Estaline, reduzindo o 25 de Abril a “atentados de extrema esquerda, violação dos direitos individuais como a propriedade privada e perseguição à Igreja”, passando pela SIDA e pela derrota portuguesa na final do Euro 2004.

A segunda para Alberto João Jardim que, mais uma vez, se destacou pela grunhice que é, de há muitos anos para cá, a sua imagem de marca. Eliminou qualquer projecto de festejo oficial e “recomendou” aos madeirenses que não participassem na festa organizada pelos partidos de esquerda do Arquipélago Bronco. Esta “recomendação” é, tão só, uma ameaça a quem o contrariasse. O seu séquito pidesco atropela-se para lhe denunciar mais um vermelho, o que pode ter consequências muito negativas numa região em que boa parte dos trabalhadores estão empregados pelo executivo de Alberto João.
Uma boa notícia, indirectamente relacionada com outro grande grunho, este do Continente, veio de Marco de Canaveses, que pela primeira vez em 22 anos celebrou oficialmente o 25 de Abril. Furioso, Ferreira Torres deu duas cabeçadas num árbitro, uma cotovelada num fiscal de linha e refugiou-se no Circo das Celebridades.

A terceira para a bancada parlamentar do PS que aplaudiu efusivamente o discurso amorfo de Cavaco Silva, chegando mesmo a surpreender visivelmente as bancadas da direita, com o seu entusiasmo de cadela com o cio.

E é com isto que temos de viver. Foi para isto que alguns arriscaram o pescoço.
Enfim.
Mais importante que tudo, está a nossa lucidez. Tentemos salvaguardá-la.
25 de Abril Sempre!

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