domingo, 3 de dezembro de 2006

Trabalhas na Revista Atlântico? Fixe. Quando é que essa merda fecha?

Deambulando por essa net fora, dei comigo no blog da perigosa Revista Atlântico, a tal que só publica textos de gajos com três nomes (e se houver por lá um hifenzito melhor ainda).
E os tipos andam todos entretidos numas grandes discussões, pá. Coisas sérias, pá, terrorismo, economia, até escravatura. É claro que o elemento comum entre a malta escrevedora é a sua crença na superioridade moral do Ocidente (leia-se EUA), bem como o facto de vários deles terem filhos chamados Martim e Francisca. Ah, e são todos de direita, ia-me esquecendo de dizer este pormenor.
E foi então que dei comigo a pensar noutras coisas, como por exemplo por que raio os pseudo-intelectuais de direita (sim, não há só os outros) continuam alegremente a debater estas coisas, a tentar intervir, a defender os seus pontos de vista umbiguistas. A resposta mais evidente, e provavelmente a correcta, é que o fazem para satisfazer os seus gigantescos egos cultivados em colégios internos, mas isso não explica tudo. Também os esquerdalhos como nós têm o seu egozito, e nenhuma vergonha de o demonstrar, mas por alguma razão a malta faz-se à vida e caga.
E a coisa até é simples.
É mais fácil cagar postas de pescada quando temos empregadinhas para fazer tudo, quando a nossa preocupação é saber se já chegou a Portugal o novo modelo da BMW, quando nos debatemos mais com as alterações ao IRC do que com a manutenção do próprio emprego, ou a ter de escolher entre este e a nossa sanidade.
E o problema está, em grande parte, aqui.
Como ser de esquerda neste mundo? Como ser de esquerda e ainda assim trabalhar para comer, aturar o cabrão do patrão, ser mais uma vez enrabado pelos governantes (de esquerda, dizem eles)? Para alguns é fácil, deixam de tomar banho, arranjam uns cães e vão para o Chiado pedir dinheiro por atirarem umas merdas para o chão. Mas, e para os outros?
Os outros. Nós.
É fodido.
Nós desistimos.
A fraca produção do Vodka nos últimos tempos é disso sinal. Onde andam os grandes protestos, as farpas políticas, as sátiras venenosas? Ainda existem, mas morrem entre um e outro copo, que falar sempre dá menos trabalho que escrever.
Há quem diga que a esquerdice é uma doença que passa com a idade. Não concordo. Sou tanto de esquerda como sempre fui. Não mudei a minha forma de pensar, não passei a gostar do Cavaco e do Sócrates. Simplesmente estou cansado.
Cansado de ter de lutar por algo em que não acredito, para poder comer e não ter de andar a pedir nada a ninguém. Cansado de esta vida estúpida me esgotar sem me deixar consumar seja o que for.
Cansado de escrever em casa, sem expectativas de divulgação, de saber que as coisas estão mal mas cansado demais para deixar que isso me incomode verdadeiramente. Quanto a tua preocupação é saber se vais aguentar o emprego mais uma semana, se vais resistir a esbofetear o chefe, é difícil ter energia para dizer mal do Bush.
A revolta é a mesma, mas o cansaço é infinitamente maior. Daí as bubas, as drogas, as noitadas, as aventuras inconsequentes que buscam apenas que aconteça mais alguma coisa naquela noite, seja o que for. É para aí que vai a frustração, e graças a deus por tudo isso.
Eles ganharam. Nós continuaremos a beber.
Ao menos isso.

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