segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O Jesualdo da política

Durão Barroso, o ex-quase anarquista de há 30 anos atrás, deu agora uma entrevista, no tom apoteótico de quem fala à comunicação social do seu pequeno país depois de um percurso internacional brilhante. É claro que o seu percurso, a sua carreirazinha, nada tem de brilhante, uma vez que os dois cargos mais significativos que ocupou – primeiro-ministro e presidente da CE - foram ganhos por manifesta e assumida falta de comparência.
E o que diz o senhor na entrevista?
Bom, em primeiro lugar fala do eventual referendo ao tratado europeu, vulgo constituição europeia, que só mudou de nome para fugir à obrigatoriedade – pelo menos moral – de ser referendada. Afinal não interessa nada ouvir a opinião dos cidadãos, curiosamente depois de alguns países europeus terem chumbado a dita constituição. Durão explica: “as pessoas dizem todas que preferem o referendo, como é natural, e depois, curiosamente, não vão votar”.
“Aliás, em Portugal, tanto quanto sei, os referendos não têm tido sequer a maioria necessária para serem vinculativos”, afirma ainda, sublinhando que o que não pode aceitar é que “se desvalorizem os parlamentos, senão teríamos um populismo permanente”.
Ou seja, querem referendos mas depois abstêm-se, esses malandros. Por essa ordem de razões, acabe-se com as eleições, não é, senhor Durão?
Depois vem a guerra do Iraque, na qual o senhor Durão participou na dupla qualidade de mordomo (servindo o chá e os bolinhos) e de emplastro (contorcendo-se para entrar nas fotos). Diz o senhor que está na moda culpar o senhor Bush, mas as pessoas esquecem-se que havia uma “quase unanimidade” em torno da invasão do Iraque. Para além do facto de uma “quase unanimidade” ser uma expressão completamente absurda, Durão explica que a decisão de invadir foi apoiada “tanto pelos republicanos como pelos democratas”. Ninguém explica a este senhor é que NÓS ESTAMOS EM PORTUGAL, temos um sistema político próprio, autonomia jurídica, etc, como tal é irrelevante qual foi o apoio que a iniciativa teve nas terras do Tio Sam.
Por último, diz que “Portugal não tem que estar arrependido do apoio dado” à invasão do Iraque. Porquê? Porque “não perdeu nada com isso”. Esta justificação é fabulosa na ilustração da realpolitik que inunda a cabeça de Durão. Há milhares e milhares de mortos? Há. Há uma grosseira mentira na base dessa guerra? Há. Há ou não um completo desrespeito por todas as regras do direito internacional? Há. Mas há algum problema? Não. Porquê? Porque Portugal “não perdeu nada com isso”.
E explica este argumento. “Repare, depois das decisões que tomei, fui convidado a ser presidente da Comissão Europeia e tive o consenso de todos os países europeus. O que demonstra que o facto de Portugal ter tomado naquela altura aquela posição não prejudicou em nada, em nada, a imagem de Portugal junto dos seus parceiros europeus”. Fantástico. Durão, qual Nero tocando lira enquanto Roma arde, confunde a sua parca pessoa com Portugal, e o sucesso de seu percurso carreirístico com o caminho internacional de Portugal.
Muita gente se esqueceu, mas eu não, de quando ele era líder do PSD e líder da oposição. Como era gozado por todos por ser um líder fraco a todos os níveis. Como dizia uma coisa num dia e outra no seguinte. A sorte bafejou-o, quando Guterres abandonou o poder e quando a Comissão Europeia se entreteve a rejeitar nome atrás de nome até arranjarem um tipo que, de tão inócuo, não incomodava ninguém.
Durão Barroso é o Jesualdo Ferreira da política nacional. Mesmo quando ganha toda a gente sabe que o mérito não é seu. O meu receio é que Portugal, o pequenino e provinciano Portugal, venha a eleger este homem presidente da república, quando se cansar da sua aventura internacional. E, acreditem-me, basta ele querer, neste cantinho burgesso para o qual tudo o que vem de fora é sinónimo de qualidade.

7 comentários:

Eu disse...

Brilhante, como vem sendo hábito!!

papousse disse...

Justa sova no Durão.

Anónimo disse...

´gostei da dissecação da entrevista... mas a propósito: vou gostar de ver alguém a tentar explicar o que é maioria qualificada ao ao sr. tuga do portugal profundo....para que bá botar..

nilla disse...

escribes muy bien.
visita mi blog

Anónimo disse...

xiupia-mie la pixiotia.

professor x disse...

Quem diria, que este senhor que já foi o bully do PCTP/MRRP é agora presidente da Comissão Europeia, e tambem acho que não é preciso ser adivinho para ver que provavelmente será presidente desta república à beira mar plantada. Enfim, haja saúde...

Anónimo disse...

XUPEM-ME OS COLHÕES!!!