quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O peixe-espada

E aí está o nosso primeiro, José Sócrates, em mais uma das suas famosas piruetas políticas. E o referendo foi para as couves.
Eu percebo José Sócrates. A sério, percebo-o. Não era admissível, era até "irresponsável", nas palavras dos pressurosos socialistas, que o Zé, depois de passar seis meses a andar a armar-se no jovem europeísta competente e determinado, pusesse tudo em causa ao deixar que nós, os bárbaros, referendássemos o raio do papel!
Eu percebo. É a realpolitik no seu estado puro.Os portugueses, nestas coisas do voto, não são nada confiáveis, ou já se esqueceram que deram a maioria absoluta a este tipo?
Percebo que não queira o referendo, que não lhe dê jeito. Só não aceito é que minta, e que nos trate a todos como idiotas. Ele mudou de ideias. O poder faz isso, a muitas pessoas. Então, por que raio não diz ele isso? Que mudou de ideias? Que se enganou. Não o faz porque é um pacóvio arrogante armado ao modernaço. Guterres por exemplo, era um autêntico Kalimero, um mestre no mea culpa, e a malta gostava dele por causa disso, e não lhe levava a mal. Toda a gente se engana. Eu próprio, em tempos, admiti a hipótese académica de que, caso surgisse a oportunidade, até dava uma trancada à Ana Malhoa. People make mistakes. Mas não Sócrates.
O referendo não foi apenas uma promessa eleitoral. Foi uma promessa reiterada, até há cerca de um ano, quando Sócrates disse, preto no branco, que haveria referendo "qualquer que seja o texto final".
Pois.
E qual é o argumento utilizado por Sócrates? Que o tratado de lisboa "é completamente diferente do tratado constitucional". Mesmo que todos os especialistas - para aí sete - que se deram ao trabalho de ler os dois dizerem que não é verdade, e que é "basicamente a mesma merda", citação minha mas que fica gira entre aspas, dá-lhe um ar de respeitabilidade.
É completamente diferente, diz ele, para quem é preferível mentir descaradamente - e toda a gente saber - do que admitir que se enganou, ou que simplesmente mudou de ideias.
A partir daqui, por exemplo, um computador "é completamente diferente" de um portátil. Uma bola "é completamente diferente" do chamado esférico, ou rapaqueca. E um edifício nunca, mas nunca, poderá ser confundido com um prédio.
E isto não é um blog, nada disso.
É uma posta de peixe-espada preto.
Com molho de manteiga.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo. Sujiro que todo o representante político que viole uma promessa eleitoral seja obrigado a violar também a Ana Malhoa.

raviolli_ninja disse...

Então e o nosso amigo Armando Vara?