sábado, 30 de agosto de 2008

A Rebeldia iPhone

A SIC montou uma gigantesca campanha de promoção para a sua nova série/novela/monte de merda, que dá pelo nome de Rebelde Way.
Depois de anos a apanhar bonés, percebeu que a melhor maneira de combater a morangada da TVI era...imitar. É lógico. Era inevitável.
Depois de 20 minutos a ver a nova série (o que me provocou uma crise de cólicas da qual só um dia depois começo a recuperar) sinto-me preparado para uma análise.
Bora lá.
A fórmula é a mesma nos dois canais. Aqui fica a receita:

1 - Pitas boas. Muitas, quanto mais descascadas melhor (as séries de verão são, naturalmente, as melhores, porque eles vão todos juntos para a praia).
2 - Gajos "estilosos". A coisa divide-se em dois: há aqueles que têm quase 30 anos mas fazem de adolescentes, e depois há os que são mesmo adolescentes. Estes últimos são aqueles que se levam a sério enquanto "actores". O requisito essencial para qualquer gajo que entre nestas séries é ter um penteado ridículo.
3 - O Rebelde Way tem gajas do norte. Fazem de gajas daqui, mas aquele sotaque é fodido de perder. Fica ridículo, mas as gajas são boas.
4 - Nos Morangos, a palavra "pessoal" é dita 53 vezes por minuto, normalmente inserida nas frases "Eh pá, pessoal!", no início de cada conversa, ou então "Bora lá, pessoal", antes do início de qualquer actividade.

Agora vamos à bosta que a SIC acabou de parir, com pompa, circunstância, varejeiras e mau cheiro.
Chama-se Rebelde Way. Cool, man! O slogan dos Morangos era "Geração Rebelde", mas a inspiração deve ter vindo de outro lado, de certeza. O que me irrita na poia da SIC é que os gajos são todos betinhos (até os mânfios são todos giros e cool e com uma caracterização ridícula, como se fossem a um baile de máscaras vestidos de agarrados ou arrumadores de carros). Mas depois são bué rebeldes. São bué mauzões, man! A brincar com os seus iPhone, com as suas roupinhas fashion, grandes vidas, mas muita mauzões.
Se há algo que esta geração de morangada não pode ser, não tem direito a ser, é ser rebelde. Rebelde porquê, contra quê? Nunca houve em Portugal geração mais privilegiada do que a actual à qual esses putos pertencem. Nunca qualquer puto teve tanta liberdade e tanta guita no bolso como esta malta. Nunca as pitas foram tão boas e tão disponíveis para foder com a turma inteira como agora. Nunca houve tamanha liberdade de mandar os pais à merda e exigir uma melhor mesada porque é altura dos saldos. Rebelde porquê? Em nome de quê?
É claro que isto são pormenores com as quais as novelas não se deparam, nem têm de o fazer. O objectivo é simples: para uma geração tão privilegiada como aquela que é retratada, há que criar uma rebeldia fictícia, porque não é cool ser dondoca aos 16 anos. Mas é o que todos eles são.
Há uns tempos vi, no largo do carmo, um bando de aí uns 15 putos e pitas, vestidos à dread com roupinha acabada de comprar na Pepe Jeans. Um dos putos que ia à frente, não devia ter mais de 16 anos, vem a falar à idiota como se fosse dono da rua, saca duma lata de tinta e escrevinha qualquer coisa de merda na parede. Todos se riram, todos adoraram, e ele foi, durante cinco minutos, o maior do bairro. Não fiz nada, mas devia ter-lhe partido a boca toda.
Todas as últimas gerações antes desta (incluindo a minha, a Geração Rasca, que se transformou na Geração Crise - bem nos foderam com esta merda) tiveram de furar, de lutar, de fazer algo. Havia uma alienação mais ou menos real, que depois se podia traduzir nalguma forma de rebeldia. Não era o 25 de Abril como os nossos pais. A nossa revolução é a dos recibos verdes e da consolidação orçamental. Mas esta morangada sente-se, devido à merda que a televisão lhes serve e aos paizinhos idiotas que (não) a educaram, que é dona do mundo. Quando já és dono do mundo, vais revoltar-te contra quem? E por que raio haverias de o fazer?!
E assim vamos nós.
Com novelas de putos "rebeldes", feitas por "actores" cujo momento de glória é entrar numa boys band ou aparecer de cu ao léu na capa da FHM, ensinando a todos os outros putos que temos que ter cuidado com as drogas (mas todos os agarrados são limpinhos, assépticos, com os mesmos penteados ridículos), que a gravidez adolescente é má (mas todas as pitas querem foder à grande, porque são donas da sua própria vida e os pais não sabem nada, etc) e que, sobretudo, este mundo lhes deve alguma coisa.
Os tomates.
A mim e aos meus, o mundo deve alguma coisa. Aos que foram atrás da merda do canudo para trabalhar num call center, aos que se matam a trabalhar e são forçados a ser adultos antes do tempo. Não a esta cambada de mentecaptos.
E depois estas séries vão retratando "problemas sociais da juventude", afagando a consciência de quem "escreve" aquela merda, enquanto ao mesmo tempo incentivam esta visão egocêntrica, egoísta e vácua desta geração acabadinha de sair do forno.
Talvez eu esteja a ficar velho e a soar como o meu pai. Lamento se não é cool.
Mas esta merda enoja-me.

24 comentários:

Rita disse...

Concordo a plenos pulmões...rebeldia de q???a playstation avariou, o telemovel n é de ultima geração...por favor e nós a geração 500 euros! Dá raiva de facto. E mais! devia haver alguém que proibisse semelhantes séries para atrasados mentais...mas enfim isso é q já é mm pedir demais!

J. Maldonado disse...

Subscrevo integralmente tudo o que dizes. :)
De facto as novas gerações são privilegiadas, pois os paizinhos dão tudo o que os meninos pedem. E são demasiado comodistas para serem rebeldes...
Essas novelas são irrealistas, pois não transmitem a verdadeira realidade da juventude portuguesa.

Anónimo disse...

"Nunca as pitas foram tão boas e tão disponíveis para foder com a turma inteira como agora."

Antológico!

Patrícia T. disse...

Eu também pertenço à famigerada "Geração Rasca" (hoje em dia mais conhecida por "Geração À Rasca", diria eu), por isso identifico-me plenamente com este post. Estamos perante a geração das "uvas sem grainhas" (como eu costumo dizer) ou como disse, e muito bem, o jornalista Pedro Pinto a "Geração Amorfa". Ora, se eles são amorfos (apáticos, indiferentes pelo menos no que toca ao que realmente interessa) não podem ser rebeldes!

Fazem falta, neste país, mais "Little Bastards" dispostos a dizer as verdades com todas as letras!

Keep going!

Anónimo disse...

Caro amigo. Tens razão, caralho. Pareces mesmo um velho a falar. "Depois de termos feito tudo aquilo que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Ainda somos os mesmos: cabrões geracionistas. Geracionismo: preconceito que consiste em avaliar uma pessoa a priori em função da geração a que pertence; enviesamento cognitivo que consiste na sobrevalorização da própria geração, subvalorizando as outras gerações. O teu esquema cognitivo é sempre o mesmo: 1) generalizar para todo um grupo a partir de poucos casos particulares (todos os adolescentes são vândalos e exibicionistas como o puto que grafitou o Largo do Carmo, 2) considerar esse grupo essencialmente homogéneo, subestimando a sua imensa diversidade (para ti, todos os adolescentes são ricos, mimados, egocêntricos, fúteis, privilegiados, irresponsáveis, consumistas, pseudo-rebeldes); 3) protegeres o teu grupo de pertença, definindo-o por oposição aos outros grupos (para ti, a nossa geração é muito boa e lutadora, os putos são uns pseudo-rebeldes atrasados-mentais"; tal como os brancos são trabalhadores e honestos, enquanto os ciganos são preguiçosos e ladrões"). Mais uma vez, o teu retrato é muito pouco realista. Por exemplo, para ti todos os adolescentes são ricos e consumistas. Realidade: desde há 20 anos que a taxa de pobreza continua persistentemente na ordem dos 20% e destes 2 milhões de pobres muitos são adolescentes. 2ª distorção: confundes o modelo com o retrato- retratas uma geração indirectamente a partir do retrato unidimensionsal e estereotipado que uma telenovela faz dela. Eu não teria a mesma confiança inabalável no rigor sociológico dos seus guionistas. Além do mais, duvido que os guionistas, produtores e realizadores desse distinto programa pertençam à geração "teenager mimada".
Para acabar, um preceito moralista: não faças aos outros o que não gostas que façam a ti. Assim como não gostámos que o Vicente Jorge Silva (e alguns outros ilistres opinion makers da da sua geração) nos apelidasse injustamente de geração rasca (grande mito. Por exemplo, nunca como hoje os investigadores portugueses publicaram tantos artigos científicos nas mais prestigiadas revistas internacionais, enquanto o mundo académico no tempo dos nossos pais era de uma mediocridade absoluta), não façamos a mesma coisa com as novas gerações, muitos deles putos criativos cheios de tusa em devorar todo o universo tal como nós fazíamos quando tinhamos a sua idade. Um abraço rasca de alguém que se orgulha de ter partilhado a adolescência com o Little Bastard.

M4Jor disse...

Eu, fico-me mais com a grande crónica/resposta/post do Ricardo, individuo(s) da minha geração, e de todos os outros que responderam.

Ricardo, sem tirar nem pôr. Ao ler o artigo incial, há de facto um sentimento que despolta em nós, geração à rasca, recibos verdes etc, mas friamente é de facto assim como dizes.

Os nossos Pais foram os maiores desenrascadores da historia portuguesa. Nós fomos os mais criativos, mas a seguinte será melhor, e a seguir novamente e assim sucessivamente. E, quem lá está será sempre estigmatizado. Sempre foi assim, sempre será.

Little Bastard disse...

Caro Ricardo:

seu ranhoso comuna cheirador de flores! Vês a vidinha do teu puff asséptico, rebuscando na merda da enciclopédia britânica as respostas que deviam estar dentro de ti. Eu não defendo a minha geração. Não a acho nada de especial. Apenas é uma geração encavada pela vida que os nossos pais, esses grandes combatentes pela liberdade (0,3% deles) nos deixaram quando se aburguesaram, e agora votam PS porque são bué de esquerda.
Vens-me falar de estatísticas: se a probreza se mantém em 20% da população mas o PIB (riqueza criada num país anualmente) cresce todos os anos, isso quer dizer duas coisas: a) os ricos estão a engordar cada vez mais; b) a classe média acéfala cada vez gasta mais dinheiro em merda, iphones e playstations e merdas dispensáveis (muitas delas para os putos que as reclamam).
Eu achava que estava a falar à velho, mas tu sim tás a falar à velho. À velho hippie que vê tudo com uma naturalidade extrema, não criticável, não questionável. Tu contentas-te, cobardemente, com a "análise", tu, os livrinhos e os ratinhos de laboratório. Agora acusar, levantar o dedo? Não, credo! Como dizia o Zé Mário, somos todos uns gajos porreiros, né?
Tusa pelo mundo? Tusa pelo mundo os tomates. Tusa por ter merdas, por dizer idiotices, por viver numa existência vácua e de aparência oca e sem significado.
A culpa não é deles, é dos paizinhos, é verdade.
E queima os paus de incenso que quiseres, Zen de pacotilha. O mundo está lá fora, mas não o vês se tás agarrado aos teus livros e às tuas teorias.
Espalha o amorzinho pelo mundo, da tua varanda.São precisos gajos como tu.
Tusa pela vida tenho eu.
O resto são teorias.

Anónimo disse...

O homem pode nem sempre ter razão, mas o seu fel é delicioso.

Anónimo disse...

Caro Bastard, faço minhas as palavras do anónimo das 23h32: continuas a não ter a ponta de razão, mas que interessa isso? Estás-te literalmente a cagar para a razão- na tua resposta não esboças qualquer tentativa de contra-argumentação lógica- há apenas bílis cuspido e críticas ad hominem, continuas a pensar com o caralho e com a vesícula biliar, continuas a ter a ironia e o rancor do Zé Mário, mas falta-te o seu humanismo, continuas a ser genial mas és um grande filho da puta, continuas a ser um personagem speedado e amoral do Kerouac mas o teu fel é verdadeiramente delicioso.

Anónimo disse...

Ad hominem? Zé Mário (um amigalhaço,assim mesmo sem o Branco)? Kerouac? Fosga-se!

Mais depressa limpava o cú com a aspereza de lixa do Little Bastard do que o papel higiénico ultra suave c/ 4 folhas e picotado do Ricardo.

Venha o fel, que o politicamente correcto sabe a nada.

Anónimo disse...

Xegundo a wikipedia a última vez k a palavra fel foi aplicada foi na canxão da Ximone de Oliveira.

Guxtava muito k foxe mais utilizada nux diálogox dux Morangox, a xeguir à palavra pexoal

Props pó people do Vodka!

Liliana Carvalho Lopes disse...

"Talvez eu esteja a ficar velho e a soar como o meu pai. Lamento se não é cool.
Mas esta merda enoja-me."

Também me sinto assim... E concordo com tudo o que disseste neste post. Mete-me nojo andar na rua e ter de me controlar para não partir a boca a certas merdas que vejo nesta geração de hoje em dia.
Sinto-me mesmo velha quando vejo estes seres com ar e vento no cérebro e digo: onde é que vamos parar?...

Cumprimentos

Anónimo disse...

Tem razão, caro anónimo. Essa escumalha do politicamente correcto deveria ser exterminada em câmaras de gás.

Anónimo disse...

Quem é que está a ser absolutista agora? Hm?

Não te leves tão a sério, só exponencia o ridículo.

Anónimo disse...

Receio bem que não tenha compreendido a minha ironi, caro anónimo.

Anónimo disse...

Receio bem que não tenha compreendido a minha ironi, caro anónimo.

Anónimo disse...

ironi ironi ironi ironi ironi

Anónimo disse...

Tem piada, também me chamo Anónimo.

Anónimo disse...

pois... lembro-me bem da PGA... Lembro-me bem te ter trabalhado 2 meses para comprar a primeira PUTA de PlayStation2 que me custou 90 contos!! FODA-SE!!! Lembro-me bem das greves de estudantes, e do stress em ter que ser eng.º, ou dr.º, para gáudio dos meus progenitores em reuniões natalícias com a restante família... Lembro-me bem do António Variações... e que a SIDA era só de picolhos... Mas hoje... Tenho 36 aninhos (mas com corpinho de 35), e caro Bastard, hei-de concordar contigo e com o outro mwadiê do flowerpower... São realidades alucinadamente diferentes... E os putos dos nossos putos, como é que vai ser ???

Runner disse...

O pessoal afinal sofre bué com a cena do regresso das ferias!

Anónimo disse...

epa descupe lá, ó Ricardo... mas o seu primeiro post parece mesmo o Socras a falar... esperançado, confiante numa geração que certamente será melhor que a sua, e que levará o país à gloriosa prosperidade económica e social.

Pois olhe, eu não sei que idade tem voces, mas devem ser da geração acima da minha. Eu tenho 20 agora, tou a acabar a faculdade, e tenho so que lhe dizer, ricardo, que o que lhe falta é fazer o secundário HOJE numa escola PUBLICA de HOJE. não falo das privadas porque não as conheço, mas também não interessa porque a percentagem so pode ser maior: sabe quantos têm tomates para não usar roupas de marca? Sabe quantos fazem birra no supermercado porque o estojo não é da o'neil? Sabe quantos se importam mais com a aula a que estão a assistir do que com a discoteca para onde vão à noite?

Não, melhor. Vamos a um evento que é mais transversal ainda, apesar de ser ainda influenciado pelo ordenamento geográfico: o dia da defesa nacional. estive lá há dois anos com mais 70 jovens machos como eu. sabe quantos tiram o chapeu ao ouvir o hino? mais: sabe quantos ficam espantados (ou ate mesmo furiosos) quando lhes é mandado tirar o chapeu perante o hastear da bandeira?

pense nisto, a partir do seu puf, e depois venha com estatisticas.

Anonimo nº2, não o mesmo dos outros posts

Anónimo disse...

Caro anónimo, nº2. 1) Concordo com a sua crítica à obssessão com as roupas de marca (como forma de afirmação de um determinado status social). Mas pergunto-lhe, qual a geração responsável pela máquina de publicidade que a incute? 2) Correcção: eu não considero que a próxima geração seja melhor que a minha- eu não julgo o valor das pessoas pela geração a que pertencem. 3) Não sou sensível à sua indignação perante a alegada falta de respeito aos símbolos da pátria. Considero o nacionalismo um preconceito tão arbitrário como o geracionismo (mas muito mais perigoso).

Anónimo disse...

não se trata de nacionalismo. se quer mesmo saber, ja que a conversa descamba sempre para ai, sou completamente apartidário. Trata-se de algum respeito pelo simbolo, pelos simbolos (varios) que representam, e pelo que foi feito pelo nosso povo em nome desses simbolos, e que hoje em dia para esta geração parece não significar nada (tal como o direito de voto de que muitos se abst~em por preguiça ou descredito, esquecendo a luta que foi necessária para o reconquistarmos ao regime). Segundo, se voce não julga as pessoas pelas gerações, é absurdo atribuir o funcionamento da máquina publicitária a uma geração. Mas mesmo assim respondo-lhe: publicidade não reflecte quem a faz mas o público alvo dos seus conteudos.

Para terminar, deixe-me dizer-lhe que concordo com o perigo dos nacionalismos, mas acrescento que mais perigosa ainda é a ignorancia.

Anonimo nº2

Anónimo disse...

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