O Bardo de Águeda
Manuel Alegre, o deputado-poeta, anda por aí todo ufano, tonitroante, qual adriano correia de oliveira cantando as faias e as boas novas da esquerda.
Acontece que ele gosta é de fóruns. Fóruns. Fóruns, debates, iniciativas, coisas, pá, cenas, man.
O que ele não gosta é de, efectivamente, fazer alguma coisa.
Depois de se ter entusiasmado no último fórum da esquerda desgarrada, alucinando que ainda estava em 1978 e que ainda não era mais um deputado aburguesado desta desgraçada nação, disse que o seu movimento devia ser uma alternativa de poder. É claro que os jornalistas, esses magarefes, tiraram a conclusão, e fizeram disso títulos, de que Alegre ponderava criar um novo partido.
Mas, enfim, lá veio o poeta hoje pôr os pontos nos i. Afinal, não. Nada disso.
Foi tudo um erro de interpretação.
«Falei de alternativa de poder, não disse que ia fazer um partido, nunca falei em partido. Disse que depois de termos quebrado o tabu de que a esquerda não dialoga, há outro tabu que é preciso quebrar que é o de que a esquerda não quer ser poder», argumentou Manuel Alegre, disparando, em seguida, contra os jornalistas: «Não me queiram forçar para vender jornais, não ponham na minha boca o que eu não disse.»
Pois. Alegre pode não querer vender jornais, mas na verdade não tem nada para vender a não ser ele próprio, algo que ele faz todos os dias há pelo menos quatro anos.
Vi-o há pouco na televisão. Manda vir com o governo, diz que vai por mau rumo. Quer unir as esquerdas, mas o PS obviamente não se quer unir com ninguém, até porque há muito deixou de ser de esquerda. A única vez que foi a votos, lembre-se, foi apenas porque o lugar de candidato oficial do PS lhe tinha sido prometido, e foi depois dado a Soares. Foi apenas o reflexo de um ressabiado. A verdade é que, no momento certo, não age. Não sai do partido, sabendo perfeitamente que o PS só o quer para fazer o papel de "idiota útil". Fala em unir as esquerdas, mas espera que o PC e o BE lhe venham beijar as botas, sendo ele o líder e, ainda assim, deputado e membro do PS.
Mas a vidinha santa de São Bento, essa ninguém lha consegue tirar.
A esquerda começa a dar, finalmente, sinais de vitalidade e de renovação, ainda que nao de juízo. E onde estava Alegre quando as coisas estavam realmente más?
Na verdade, é só bazófia, o que é óbvio em alguém que consegue dizer a absurda frase de "o meu camarada Sócrates".
Alegre não fode nem sai de cima.
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9 comentários:
Concordo com as tuas críticas à personalidade de Manuel Alegre: vaidoso, petulante, inconsequente, contraditório. No entanto, independentemente dos seus defeitos pessoais, julgo que o mesmo representa um espaço político legítimo que actualmente se sente órfão- a ala esquerda do PS, naturalmente descontente pelo facto do seu partido ter abandonado a social-democracia para abraçar o liberalismo (de terceira via), desmantelando o estado social, privatizando as empresas públicas lucrativas (gerando monopólios privados sem risco em sectores estratégicos), mercadorizando as relações laborais, acentuando as assimetrias de poder entre capital e trabalho (com um código de trabalho à direita do código Bagão Félix), manifestando um discurso anti-sindicalista, pouco ou nada fazendo para reduzir a pobreza e redistribuir a riqueza no país mais pobre e desigual da Europa. Neste contexto é natural que a ala esquerda do PS se insurja contra a descaracterização ideológica do seu partido, e que ao mesmo tempo não se reveja nas perspectivas mais revolucionárias do PCP e do BE.
Concordo com as tuas críticas à personalidade de Manuel Alegre: vaidoso, petulante, inconsequente, contraditório. No entanto, independentemente dos seus defeitos pessoais, julgo que o mesmo representa um espaço político legítimo que actualmente se sente órfão- a ala esquerda do PS, naturalmente descontente pelo facto do seu partido ter abandonado a social-democracia para abraçar o liberalismo (de terceira via), desmantelando o estado social, privatizando as empresas públicas lucrativas (gerando monopólios privados sem risco em sectores estratégicos), mercadorizando as relações laborais, acentuando as assimetrias de poder entre capital e trabalho (com um código de trabalho à direita do código Bagão Félix), manifestando um discurso anti-sindicalista, pouco ou nada fazendo para reduzir a pobreza e redistribuir a riqueza no país mais pobre e desigual da Europa. Neste contexto é natural que a ala esquerda do PS se insurja contra a descaracterização ideológica do seu partido, e que ao mesmo tempo não se reveja nas perspectivas mais revolucionárias do PCP e do BE.
Concordo com as tuas críticas à personalidade de Manuel Alegre: vaidoso, petulante, inconsequente, contraditório.
Pateta Alegre...
Só um reparo, caro Ricardo. A ala esquerda do PS não existe. Esquerda significa verticalidade, e isso não existe em alguém que diz não se rever num partido mas continua a viver à conta dele. A ala esquerda do PS está fora do PS. Que façam alguma coisa, ou que se calem. Assim, só servem para canalizar para o partido os votos dos esquerdinhas que têm medo dos comunistas e outros que tais que comem criancinhas.
Caro Bastard, tenho uma opinião diferente. É saudável haver diferentes sensibilidades dentro de um partido. É saudável que todo o poder seja compensado por um qualquer contra-poder. Como alguém disse, "o poder corrompe e o poder sbsoluto corrompe absolutamente". É saudável que o poder da faccão dominante no PS (cada vez mais à direita) não seja absoluto e que seja (pelo menos parcialmente) contrabalançado por uma oposição interna mais à esquerda. Continuar no partido discordando com a actual direcção é uma manifestação saudável de pluralismo interno, não implicando oportunismo e falta de verticalidade (e, já agora, apesar de ser de esquerda- à esquerda da esquerda do PS-, não considero que a esquerda detenha o monopólio sobre a verticalidade).
Como é que os países do norte da europa sobrevivem sem esquerda???
Com nórdicos.
Ok, ok, era só para atiçar ;)
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