sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Vergonha nacional

Agora que começaram as alegações finais do processo Casa Pia, há coisas que me estão a fazer confusão.
Em primeiro lugar, o tribunal continua a ignorar olimpicamente vários assuntos "laterais" que, perdidos na voragem da comunicação social acéfala, vão caindo no esquecimento.
Em primeiro lugar, ninguém pede indemnização nem ao Estado nem à Casa Pia. Dois dos alegados abusadores eram funcionários da instituição. Mesmo que não fossem, o Estado tem a obrigação legal e moral de cuidar daqueles que, desprotegidos e fustigados pelas incidências da vida, ficaram à guarda da Casa Pia. O Estado falhou em toda a linha. A própria Catalina Pestana, que aparece agora como protectora dos coitadinhos, já tinha funções de responsabilidade na instituição quando havia abusos, alguns dos quais estão agora em julgamento. E a sua responsabilidade? E a responsabilidade do Estado, que devia proteger quem mais precisava, sobretudo numa instituição em que há muito corriam as informações sobre o que se passava?
Talvez haja uma explicação para o facto de as vítimas não pedirem indemnização ao Estado. Sabem que é o advogado das vítimas? O mesmo advogado da Casa Pia. A própria instituição pede indemnização aos arguidos devido aos efeitos nefastos que estes tiveram sobre o bom nome da instituição! Quanto à sua própria responsanbilidade, ao seu extremo desrespeito pelos seus mais elementares deveres, nem uma palavra.
Pois.
Mas há mais.
Há pessoas - todos sabemos quem são - que não chegaram a ser acusadas com base em tecnicalidades que ninguém percebeu, apesar de terem sido claramente identificadas. Toda a gente sabe o que aconteceu. E ninguém faz nada.
Toda a gente sabe - ouviram-se escutas em julgamento - que Paulo Pedroso foi avisado de que ia ser constituído arguido. Que falou com Ferro Rodrigues, que falou com António Costa, que falou com Jorge Sampaio, que falou com o então procurador Souto Moura para ver como limitar os danos. Que a informação chegou ao PS através de Saldanha Sanches, marido de Maria José Morgado - a campeã anti-corrupção - que soube da notícia no leito conjugal. Este nojento tráfico de influências foi exposto, através de escutas, em julgamento, e ninguém faz nada. A lei manda que se abrisse um processo autónomo, mas nada foi feito. Estranho? Não sejamos ingénuos.
E assim vamos no campeonato do Totobola, apostamos se os arguidos vão ser condenados ou absolvidos, quando nada disso é o que realmente importa.
Este processo mostra até que ponto o país, o Estado e os partidos estão podres, e "no pasa nada".
É a vergonha nacional.

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