quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Round 1

A semana está a correr bem a Sócrates. Primeiro foi a entrevista na RTP feita pela dócil Judite de Sousa. E ontem foi o primeiro debate, contra o duro Paulo Portas.
Já ouvi várias opiniões diferentes, mas a minha é que Sócrates ganhou claramente o debate.
Passo a explicar.
Portas entrou no debate para jogar para o zero a zero. Está numa posição complicada: precisa de se afirmar e ganhar votos, mas não quer alienar/atacar demasiado quer Sócrates quer Ferreira Leite. Por uma razão muito simples: está à espera de ser ele o fiel da balança, o partido que vai ajudar alguém a, através de uma coligação pós-eleitoral, assegurar estabilidade no poder. O problema é que, como no futebol, quem entra para empatar normalmente perde. E foi isso que aconteceu.
Sócrates vinha bravo, e ao ataque. Bem preparado por um batalhão de assessores, spin doctors e especialistas em marketing, baseou a sua estratégia em dois elementos que se repetiram ao longo do debate: enumerar medidas que tomou e comparar com a situação que havia quando Portas esteve no Governo. Tipo "hoje em dia 500 mil portugueses andam de skate, no seu tempo eram 12".
Isto meteu o Portas na defensiva, que passou o debate todo obrigado a responder a ataques, em vez de passar o tempo a atacar.
No fim, Portas lamentou-se que Sócrates acha mais importante debater o passado longínquo do que o que fez e não fez. Tem razão, é claro. Mas ficou a clara ideia de um Paulo Bento a chorar por causa do árbitro, o que mostra que Portas perdeu.
Infelizmente, apesar de não ser surpresa, o debate centrou-se apenas em ataques, com cada um a tentar mostrar que o outro é péssimo. Propostas para o futuro, medidas, nicles.

Vi um Sócrates renascido. Ainda à porta, quando lhe perguntaram o que esperava do debate com o "líder da Direita", deu o primeiro soco, respondendo que "não sei se isso é delicado para com a Dra. Manuela Ferreira Leite". Entrada a pés juntos direito ao menisco.

Depois de quatro anos ultra-liberais, agora centra tudo em mostrar-se de esquerda e encostar Ferreira Leite bem à direita (e as tiradas da senhora sobre a sacrossanta família também contribuem para isso).

Nos últimos tempos, creio que Sócrates ganhou novo fôlego. O marketing está a funcionar. Aparece como o gajo dinâmico, activo, da esperança, fazendo de Ferreira Leite a velhada, cansada, que transpira pessimismo por todos os poros. A verdade é que muito boa gente está a ir nesta cantiga e, na minha opinião, isso mostra que Sócrates está à frente.

Tal como Pinho depois dos corninhos, agora é bestial, e toda a gente se esqueceu da merda que Sócrates anda a fazer há quatro anos e meio.

Nada como um banho de marketing para enganar um povo que, realmente, quer ser enganado.

2 comentários:

o homem do estupefacto amarelo disse...

Concordo contigo. Todo o debate entre dois adversários políticos é sempre um confronto entre duas demagogias distintas. A demagogia de Sócrates foi claramente superior. Ainda por cima, teve que confrontar 2 adversários. A ética jornalística foi a grande perdedora da noite.

Coloscópio disse...

A ética jornalística, quando decidir entrar em comparação com a sua demagogia, que vá a votos.
O autocarro demagógico que o Portas pôs em frente à área não foi suficiente. A demagogia socrática estava a correr pelas alas.