terça-feira, 22 de dezembro de 2009
O que não mata fortalece
Um gajo que eu sempre admirei foi o Orwell, por ter compreendido antes de todos que talvez a prioridade central da esquerda (e Orwell arriscou a sua própria vida num país estrangeiro em nome das causas da esquerda) deve ser a de denunciar os vícios e imperfeições da própria esquerda, nomeadamente as do chamado socialismo real. Parece-me óbvio que se a esquerda quer ter autoridade moral na apresentação de uma alternativa ao capitalismo, tem de apresentar um projecto com menos vícios e imperfeições que o próprio capitalismo. Ora foi precisamente o contrário que aconteceu com o Socialismo Real. Quando os soviéticos criticavam (e com razão) o capitalismo pela sua profunda desiguldade, minavam a sua própria credibilidade quando mostravam ao mundo que nas suas fronteiras "todos são iguais mas há alguns mais iguais do que outros" (como Orwell muito lucidamente denunciou no Animal Farm), nomeadamente a elite política e militar que detinha o monopólio do poder. E como alguém disse, (e não é preciso termos visto no cinema a triologia do "Senhor dos Anéis" para o compreender), o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Da mesma forma, quando os soviéticos criticavam (mais uma vez com razão) o capitalismo pela falta de liberdade que decorre da sua profunda desigualdade (quem é extremamente pobre tem uma liberdade de escolha profundamente menor do que quem é extremamente rico), minavam a sua própria credibilidade quando conseguiam alcançar a proeza de superar o próprio capitalismo no atentado às liberdades fundamentais: a liberdade do voto, a liberdade de expressão, a liberdade de associação, a liberdade de emigração e talvez a mais importante das liberdades, a liberdade da dissidência. Foi assim que milhões de pessoas foram presas, torturadas e mortas pelo socialismo real, simplesmente por terem ousado exercer as mais básicas das liberdades. Quando a esquerda não consegue apresentar uma alternativa mais benigna que o capitalismo, sucede o que sucedeu na Alemanha dividida, em que milhares de alemães de leste arriscavam a própria vida a saltar o muro em direcção à Alemanha Ocidental, quando nenhum alemão ocidental tentava saltar o muro rumo à RDA. E o problema é que estes não só vícios do passado, uma vez que os partidos actuais de esquerda e extrema-esquerda insistem em reproduzir muitas das práticas pouco democráticas do passado. Só quando a esquerda retomar plenamente o projecto de Orwell, ultrapassando em primeiro lugar as suas vulnerabilidades para enfrentar com mais força e autoridade o capitalismo, é que haverá novamente esperança de instituir uma alternativa credível ao capitalismo. O que não mata fortalece.
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3 comentários:
http://dn.sapo.pt/storage/ng1233816.jpg?type=big&pos=0
Pela foto em anexo que por sinal é de hoje (notícia do DN) constatamos que o capital está entregue aos vilões.
Esses gajos têm um nome: gajos com tomates.
BOAS FESTAS.
Caro professor x, Caro polittikus,
May the force be with you.
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