quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Os pecados da Igreja

Não sou crente mas não tenho nenhuma objecção de princípio contra a religião. Cada um acredita no que quiser e como estamos no domínio da fé, ninguém pode provar que o ateísmo é mais racional do que a crença ou vice-versa. Aquilo que já me parece fazer sentido criticar são as institituições religiosas, nomeadamente a Igreja Católica. Com efeito, a Igreja não é moral onde devia ser e é moral onde não devia ser.
Comecemos pela primeira crítica. Julgo que a Igreja Católica tem uma atitude arrogante face à moralidade, julgando que num mundo cada vez mais ateu e materialista, cabe-lhe a si a defesa monopolista da moralidade. Se definirmos moralidade como igualdade de direitos, deveres e dignidade de todos os seres humanos, percebemos rapidamente que a Igreja não só não tem o seu monopólio (por exemplo, muitas instituições não religiosas batem-se também pela defesa dos direitos dos mais desfavorecidos), como tem muitos telhados de vidro a este respeito. Quando a Igreja Católica (ao contrário da Igreja Protestante) nega o acesso das mulheres ao sacerdócio, viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos. Quando a Igreja Católica condena a homossexualidade (como um pecado, uma doença ou uma aberração contra-natura), viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos. Quando a Igreja Católica tem um funcionamento não democrático em que uma cúpula de cardeais impõe de cima para baixo para todos os sacerdotes e crentes as regras de funcionamento de toda a comunidade católica, viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos.
Passemos então à segunda crítica: a Igreja intromete-se no domínio pessoal tratando-o como moral. Um exemplo deste modo de funcionamento é a atitude da Igreja face à sexualidade. Sempre que estamos perante práticas sexuais mutuamente consentidas por adultos, cada qual exprime a sexualidade como quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Pelo contrário, a Igreja considera que a sexualidade tem em si mesma uma natureza moral, existindo formas correctas de sexualidade e formas pecadoras de sexualidade. Para a Igreja, a sexualidade só é moral se visar a procriação e se for praticada no âmbito do casamento (nomeadamente o religioso). Todas as outras formas de sexualidade, especialmente aquelas que visem o prazer pelo prazer (continua a haver uma condenação moral do prazer), são consideradas pecaminosas. Na sua infinita bondade e sabedoria, Deus, no Juízo Final, saberá distinguir estes graves pecados da carne dos pequenos pecados praticados por alguns padres com as crianças do seu rebanho.

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