quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

The greatest shits

A compilação de músicas num "greatest hits" é um crime inqualificável que deveria ser punido por lei. Cada álbum de originais é um todo indivisível maior do que a soma das suas canções. É uma barbaridade esquartejar diversos álbuns em canções desgarradas e ensanguentadas, fazendo uma nova colagem contra-natura dos membros e órgãos arrancados mais conhecidos, dando origem a numa nova criatura disforme e irreconhecível- um verdadeiro Frankenstein musical. Bem faziam os Led Zeppelin que nem sequer editavam singles, justamente como um statement de indivisibilidades dos seus álbuns. O Led Zeppelin II não é o Whole lotta love- é aquela combinação perfeita de nove músicas juntas num todo inseparável. Foi por isso com profunda repugnância que me vi forçado a comprar a merda de um "Very best of The Jam" porque não havia a puta de um único álbum original dos gajos em rigorosamente nenhuma das Fnacs de Lisboa. E não é caso único, com os Madness passa-se a mesmíssima merda. Com os Silver Jews e com os Kills é ligeiramente diferente: ando há que séculos a procurar em vão álbuns de originais, mas ao menos têm a dignidade de não me apresentarem uma pseudo-alternativa de um "greatest hits". A conclusão é óbvia: desde que a Fnac adquiriu o monopólio sobre a venda de discos em primeira mão (com a excepção residual dos hipermercados), o seu catálogo tem reduzido escandalosamente. Agora que já chacinaram por completo a sua concorrência (muito justamente, aliás, porque a concorrência era uma bela merda), já podem coçar à vontade os seus tomates multinacionais à sombra do seu monopólio. É que já nem tentam disfarçar que se estão a cagar completamente para os discos que vendem. Assumem obscenamente que os discos são apenas um vago chamariz para as pessoas comprarem o que realmente lhes dá margens de lucro interessantes: os lcds, hi-fis, computadores e gadjets para todas as paneleirices possíveis. Já para não falar dos preços absurdos, com álbuns dos Stones dos anos setenta (na altura em que eram bons) a serem vendidos por 20 aéreos. A única concorrência à altura da Fnac são as excelentes lojas de discos em 2ª mão que há em Lisboa, com bons discos a óptimos preços. Enquanto não for eu a vítima, continuarei a recorrer sempre que puder ao meu pequeno crime de receptação numa destas lojas: antes pequeno cúmplice de pequenos junkies ratoneiros, do que compactuar com o furto multinacional organizado como eu o fiz com a merda desta compilação. Mas que se foda, sabe bem ouvir os singles da mais britânica das bandas Pop britânicas, como este "Going Underground".

9 comentários:

. disse...

já tentaste lojas online? há uma loja no porto, a jojo's que dedicada a música "menos" mainstream (não menosprezando a qualidade de algumas coisas) e que também tem loja online, a cdgo.com.
Os preços não costumam ser mais altos que a fnac nesses álbuns menos, procurados, digamos.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Obrigado, caro du, pela sugestão, mas tenho uma pânico irracional em relação a transacções financeiras na net: temo sempre que algum hacker me consiga roubar os 90€ que tenho na conta. Se encontrares algum álbum dos Jam no jojo's, não hesites em mandá-lo cá para Lisboa.

o homem do estupefacto amarelo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Little Bastard disse...

1 - Eu percebo a ideia, mas não tenho nada contra os Greatest Hits (excepto, obviamente, os 50 dos Queen). Muitas vezes é uma boa porta de entrada, para depois, se um gajo gostar, comprar os discos.

2 - A Jojo's funciona mta bem, dá para pagar por multibanco e arranja tudo.

3 - Compra o "Tanglewood Numbers", dos Jews

4 - Os Jam são fixes, mas claramente overrated. Sobretudo o Paul Weller, que é venerado em Inglaterra e fez para aí três músicas fixes em 35 anos de carreira.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Só para dizer que I want to break free.

. disse...

eu até dava uma vista de olhos na jojo's mas emigrei temporariamente (ou não).
discos ou cds em londres, já posso dar uma ajuda.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Também eu emigro temporariamente, à razão de duas vezes por dia: uma primeira, de casa para o trabalho, e uma segunda, do trabalho para casa.

o homem do estupefacto amarelo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
raviolli_ninja disse...

Eu compro tudo na loja do Rapidshare.