quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ground Zero

O mundo acordou, e está a cozinhar-nos em lume cada vez menos brando.


A bolsa perde 4 milhões de euros por minuto (comendo os grandes investidores mas também o património de pequenos aforradores), o custo da dívida nacional não pára de aumentar (com consequências para as empresas e famílias). Basicamente, o nosso pequeno segredo, de que somos uns baldas e incompetentes, está à vista de todos. É claro que não somos os únicos, mas nesta altura isso é fraco consolo.

E, entretanto, o que fazem os responsáveis políticos deste país? Veja se acerta:


a) Reúnem de emergência para tomar medidas

b) explicam à comunidade financeira internacional o que estamos a fazer para inverter a situação

c) procuram um acordo alargado para refazer o orçamento de 2010 com um ataque credível ao défice das contas públicas

d) demitem-se, devido à sua responsabilidade na situação e manifesta incapacidade para o resolver

e) discutem a lei das Finanças Regionais



Quem disse e), por estranho que possa parecer, acertou.

Na prática, estamos a falar de 80 milhões para a Madeira.
Uma gota de água insignificante no mar dos gastos do Estado português embora, como é óbvio, nem que seja por uma questão de moralização, não deviam levar nem mais um tusto.
Mais, há ameaças de que, se o diploma for aprovado, o Governo pode demitir-se.

Ou seja, num momento em que a nossa credibilidade está debaixo de fogo da comunidade internacional, que mensagem estamos a passar lá para fora?
Que o Governo pode cair por causa de 80 milhões para a Madeira.

No parlamento, os deputados negoceiam e discutem alíneas. Outros, mais descarados ainda, pedem “seriedade”.

Chegámos ao ponto mais baixo. Ninguém sai limpo disto. A irresponsabilidade, a total inimputabilidade dos nossos governantes atingiu um novo nível de ridículo.

Quaisquer que sejam as consequências no curto prazo, só lhes resta sair.

Os responsáveis tocam lira, enquanto o país arde.

1 comentário:

o homem do estupefacto amarelo disse...

Ninguém sai bem da fotografia. A oposição (à esquerda e à direita) revela um populismo irresponsável (do qual me envergonho, no que ao BE diz respeito): a) a Madeira é actualmente das regiões mais ricas de Portugal; em vez de receber financiamento, deveria, pelo contrário, transferir parte do seu PIB para regiões bem mais pobres como o Alentejo ou Trás-os-Montes; b) numa altura é que é necessário reduzir o défice e a dívida pública, é imoral aumentar ainda mais as despesas do Estado neste financiamento manifestamente injusto. O governo também fica mal na fotografia pela excessiva dramatização em redor de uma lei com um impacto mais simbólico do que efectivo sobre o orçamento do Estado. Em matérias com um impacto muito maior (como ter a coragem de implementar uma reforma fiscal à esquerda que combata o défice não pelo corte das despesas mas sim pelo aumento de receitas), o governo já não revela o mesmo empenho. E é evidente que se o PS tivesse na oposição teria a mesma posição populista do que os outros partidos. Conclusão, a democracia é a pior de todas as farsas com excepção de todos os outros.