Não me recordo exactamente o ano em que ouvi o “Angel Dust”, dos Faith no More. Terá sido em 93 ou 94. Mas lembro-me muito bem das circunstâncias.
Foi o meu amigo Zé quem mo mostrou. Nessa altura, pré-pré-pré-internet, a música nova descobria-se na rádio ou lia-se sobre ela no Blitz, que eu já comprava religiosamente. O Zé era, de nós todos, o único que tinha antena parabólica no prédio pelo que, para além do campeonato inglês na Sky Sports, papava horas seguidas de MTV. Foi assim que foi falando de coisas novas e estranhas para mim: Fishbone, Alice in Chains, Green Day e, claro está, Faith no More.
Passávamos horas no seu quarto, a jogar CM e a ouvir música. Ele tinha uma aparelhagem espectacular da Tecnics, que ainda hoje possui, e aquela máquina era, para mim, o melhor e mais cool sistema de som que alguma vez tinha visto.
De início mostrei alguma resistência ao disco. A capa era bizarra, não parecia de uma banda rock. O primeiro single, que já conhecia da rádio, era o “Small Victory”, ainda hoje a música que menos gosto no álbum, e isso afastou-me um bocado.
Mas aquilo ia rodando na aparelhagem, e ia entrando. Às vezes o som agressivo do disco gerava reacções da mãe do Zé, a senhora Eduarda, e isso só nos fazia gostar mais dele. Era estranho, violento, transgressor, variado. Tinha sempre melodia, mas ao mesmo tempo parecia uma coisa apocalíptica. Para além de letras mordazes, irónicas e duras. Era todo um mundo novo, e quando vi pela primeira vez os vídeos, com animais à solta, cenas maradas e aqueles gajos de ar cool e duro a berrar, fiquei apanhado.
O Zé, quando se fartou, emprestou-se o cd. Duas semanas depois estava a devolvê-lo e a estourar a mesada na minha cópia.
É um disco que tem tudo. Hard-rock agressivo, música infantil e demente, funk e hip-hop sempre latentes. Na altura, as minhas músicas preferidas eram a primeira, estranha e apropriadamente chamada “Land of Sunshine”, “Everything’s ruined”, “Kindergarten” e “Be agressive”. Havia também o “Easy”, claro, que ajudou a vender o disco, e é uma bela baladeca. Depois, como sempre acontece com os bons discos, fui deixando as primeiras paixões que andavam “on repeat” e fui ouvindo o resto. Algumas músicas estranhas, maradas, “Crack Hitler” e “Jizzlobber”, por exemplo. E tudo encaixou.
É um disco que, devido à sua qualidade e variedade, não envelheceu um dia. Ainda hoje, como agora, o ouço do princípio ao fim. Hoje em dia gosto de o ouvir no carro, e apetece-me acelerar e arranjar merda, como é suposto acontecer com um bom e velho disco de rock n roll.
Mais tarde comprei outros discos, vi os concertos no Campo Pequeno e no Coliseu. Não fui ao Sudoeste no ano passado, mas dizem-me maravilhas, e eu acredito.
De uma carreira longa e impecável, este “Angel Dust” fica como a obra maior. Para mim são os anos em que, por causa de miúdas ou de outra coisa qualquer, sentia que era eu contra o mundo. E, com estes tipos ao meu lado, a coisa parecia-me ficar um pouco mais equilibrada.
2 comentários:
Conheci os gajos por intremedio de um amigo inglês que vinha de férias em Agosto à terra dos pais carregado de CDs. O primeiro que ouvi foi o The Real Thing e depois o Live at Brixton Academy. Vi-os juntamente com os Soundgarden no concerto dos Metalica em Alvalade e depois no Campo Pequeno. Muito bom...
De facto, a obra-prima dos Faith no More. E mesmo nos cinquenta mil projectos paralelos do Mike Patton (sempre muito bons), julgo que nunca atingiu o génio do Angel Dust. Conheci o álbum pelo mesmo circuito do que alguns outros que marcaram a minha adolescência: MTV » Zé » Little Bastard » rapaz do estupefacto amarelo. O seu sucesso comercial é um produto do período glorioso da MTV, que, à boleia do hype do Grunge, trazia música estranha, pesada e alternativa como a dos Faith no More para o mainstream. Faith for ever.
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