domingo, 14 de março de 2010

Help the aged


Não tenho nenhum preconceito à partida contra os preconceitos. É verdade que há preconceitos idiotas como julgar as pessoas pela quantidade de melanina que têm na pele (o que é mais ou menos tão racional como avaliar o valor das pessoas em função do ph do seu mijo). Mas é também verdade que há preconceitos extremamente úteis: o preconceito que tenho contra pessoas que calçam sapatos com berloques (que me leva a estugar o passo logo que avisto um ao longe) já me salvou várias vezes de ser acossado violentamente por fanáticos religiosos do Movimento Pró-Vida. Para o bem ou mal, os preconceitos são parte integrante da condição humana, como a mortalidade e a cera dos ouvidos. Julgo que tudo começou no tempo das cavernas, com o preconceito contra os tigres dentes-de-sabre. É claro que isso pode ser muito injusto para os tigres dentes-de-sabre que detestam carne humana, mas o que é certo é que não sobrou até os dias de hoje nem um único gene dos homens pré-históricos sofisticados que consideravam incorrecto fazer julgamentos rápidos e estereotipados sobre estes bichos: morriam sempre antes de terem tempo de violarem a primeira mulher.
Se a propensão para o preconceito é transversal à espécie humana, a forma que assumem é, pelo contrário, muito diversa. Por exemplo, há preconceitos inatos como a aversão ao esforço (que mais tarde se transforma em aversão ao trabalho) e há preconceitos aprendidos como o racismo (que mais tarde se transforma em nazismo e genocídio). Há uns anos atrás, o meu puto demonstrou-me porque é que o racismo não é inato. Mostrei-lhe um livro sobre diferenças. Numa das páginas, havia um menino branco e um menino preto. Perguntei-lhe qual era a diferença entre os dois: respondeu-me que o primeiro tinha uma camisola verde e que o segundo tinha uma camisola azul.
O racismo pode ser um preconceito estúpido e aprendido, mas como ninguém comete a parvoíce de querer mudar de raça (a não ser os pedófilos esquisitos que cantam "it doesn't matter if you're black or white) ao menos o racismo não se vira contra o racista. O mesmo não se passa com o velhismo: preconceito que consiste em julgar as pessoas pela quantidade de dentaduras postiças e de embalagens de viagra que têm em casa. O velhismo é um autêntico preconceito boomerang: a não ser que um gajo cometa a idiotice de se enforcar aos vinte e quatro anos só para vender mais alguns álbuns, tudo indica que um gajo vá, efectivamente, morrer velho. Ser velhista é por isso tão inteligente como cuspir contra o vento, com a diferença que a saliva só nos bate na cara quarenta anos depois. Eu, pelo contrário, nunca discrimino as pessoas em função da idade: nos transportes públicos, nunca cedo o meu lugar a alguém só porque tem noventa e quatro anos, três AVCs e sete hérnias discais. Oferecer descanso a um velho é uma ironia demasiado cruel até para os meus padrões.

2 comentários:

Sol disse...

Como percebo o preconceito quanto às pessoaas que calçam sapatos com berloques. É fugir deles a sete pés porque é bem possível que atrás venha um congresso do PSD.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Tens toda a razão: o congresso do PSD é o berloque da vida política nacional.