sexta-feira, 12 de março de 2010

Os avatares

E pronto, lá foi aprovado o orçamento e o PEC. A esquerda, naturalmente, votou contra. A direita, estranhamente absteve-se. Cortes no investimento público e nos apoios sociais, e viva as privatizações: hão de explicar-me como raio o PSD faria algo de diferente se estivesse no poder.
Mas enfim, apesar de Sócrates estar a fazer tudo o que a direita sempre defendeu, abstiveram-se.
Faz sentido.

Depois, é proposto à votação o apelo à garantia dos direitos e à libertação dos presos políticos em Cuba, na sequência da morte do dissidente Orlando Zapata Tamayo.
Toda a gente votou a favor, excepto o PCP (que ainda assim, a contorcer-se todo, votou favoravelmente o lamento pela morte de Tamayo). Quanto ao resto, votou contra. E fê-lo com argumentos, bem, vou transcrever parte do take da Lusa sobre o assunto:

" O líder da bancada comunista, Bernardino Soares, quis demarcar-se "da operação em curso, coordenado e dinamizado pelos Estados Unidos, na sua sanha persecutória de sempre contra Cuba e o seu povo".O deputado do PCP considerou que "alguns destes votos" - sem especificar quais - pretendem "inserir-se em mais uma operação de pressão e ingerência num país soberano, que há décadas está sujeito a um criminoso bloqueio e a todo o tipo de ataques, sabotagens, ações terroristas e atos violentos", criticando as restantes bancadas por "não dizerem uma palavra sobre as atrocidades de Guantanamo".

Estou-me cagando para as motivações ou para estes ou outros argumentos. Quando se defende a liberdade, a todos os níveis, não pode haver excepções mais ou menos embaraçosas e embaraçadas.
E isto veio do PCP, o partido no qual voto há alguns anos. E voto conscientemente, mesmo que não concorde com tudo. Mas, também pelo PC, cada vez tenho menos escolha. Aliás, cada vez me sinto mais alienado de todos aqueles que, num menu que é uma farsa, nos propõem.

Os nossos partidos, infelizmente todos eles, são os verdadeiros extraterrestres. Vivem noutro planeta, alimentam-se de nós e, pouco a pouco, vão acabar por nos exterminar.

O meu voto em Fernando Nobre ganha cada vez mais convicção, e  não o conheço de lado nenhum.
Mas é cada vez mais preciso passar a mensagem. De que isto, assim, não pode continuar.

2 comentários:

o homem do estupefacto amarelo disse...

Não percebo a tua estupefacção. O PCP nunca enganou ninguém e a sua coerência interna é total. Desde sempre que o partido comunista tem exactamente essa atitude de realpolitik de encobrir todos os podres (por mais iníquos que eles sejam) dos seus aliados ideológicos em nome do valor mais alto de manter a solidariedade com os outros regimes comunistas. Para um bom leninista, os fins (fortalecer o socialismo no mundo) justificam sempre os meios (calar, encobrir, apoiar os crimes feitos por outros regimes socialistas). Foi assim no pacto germano-soviético, na invasão da Hungria e da Checoslováquia pela União Soviética, foi assim em Tianamen, continua a ser assim com a ditadura de Cuba, país do mundo com mais presos políticos. Escreves como se os crimes de Fidel tivessem começado ontem, e a cumplicidade do PCP tivesse começado hoje de manhã.

Little Bastard disse...

ui, tás fodido.