segunda-feira, 5 de abril de 2010

Não há almoços grátis


Quanto mais se escrutina o passado de Sócrates, menos se escrutinam as suas decisões políticas presentes. Quanto mais se escrutina o carácter de Sócrates, menos se escrutina o seu programa político. Quanto mais se falar das irregularidades dos projectos de engenharia de Sócrates ocorridas há vinte anos atrás, menos se falará da insensibilidade social do governo de congelar o rendimento mínimo atribuído aos mais pobres dos pobres ao mesmo tempo que se mantêm os benefícios fiscais da banca. Quanto mais se falar do Freeport, menos se falará da irracionalidade económica de diminuir a curto prazo o défice orçamental privatizando empresas públicas altamente lucrativas (e vendendo-as a um preço muito abaixo do seu valor de mercado) para que a médio prazo o défice aumente ainda mais pela perda dessas avultadas receitas. Quanto mais se falar da licenciatura do Sócrates, menos se falará da dispendiosa e opaca manutenção das parcerias público-privadas (que servem apenas para desorçamentar as despesas do Estado e alimentar os nossos grupos económicos parasitas que só sabem viver sob a protecção do Estado), ao mesmo tempo que se congelam os salários dos funcionários públicos, mesmo daqueles que ganham menos de 500€ por mês. Quanto mais se falar do apartamento do Sócrates da Rua Castilho, menos se falará da decisão de adiar uma vez mais a taxação das mais-valias bolsistas, ao mesmo tempo que se impõe um tecto para despesas da Segurança Social a desempregados e pensionistas. Enquanto se falar do acessório, menos se falará do essencial. E assim sendo, quanto menos ideológico for o debate sobre o PS, mais rapidamente o poder cairá nas mãos do partido da oposição a ele igual ideologicamente.

4 comentários:

. disse...

Mesmo que discutas ideologicamente, o poder cairá nas mãos desse tal partido da mesma linha.
O que é triste é o nosso povo amorfo, não os nossos governantes.
(mas concordo com o teu raciocínio)

o homem do estupefacto amarelo disse...

You've got a point there. Detesto quando não tenho razão.

Little Bastard disse...

Here we go again. Há uma vantagem em discutir o seu carácter: toda a gente sabe o significado de palavras como mentiroso, filho da puta e corrupto.
Quanto aos outros reais problemas do país, tu e mais meia dúzia de tipos conseguem ver as coisas de forma completa, com essa clareza. Para os outros, ele ou é santo ou trafulha. Se depender de mim que pensem nele como um trafulha, my job is done.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Ei, era uma só opinião, não valia a pena ofenderes-me insinuando que eu conseguia "ver as coisas de forma completa, com essa clareza".