sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma Aventura...na Escola

Isabel Alçada é uma figura simpática. Fez, por este país, mais do que todos os membros do Governo juntos, porque fez dezenas ou centenas de milhar de crianças ter gosto pela leitura, através dos livros que escreveu com Ana Maria Magalhães.

Infelizmente, a sua presença neste Executivo está a ser marcada pela irrelevância. Tirando a mudança de estilo - de facto a Milu era execrável - limita-se a cumprir o calendário pré-definido por Sócrates, o que acontece com toda a gente neste Governo (Teixeira dos Santos será o que tem mais peso autónomo, mas até este está farto de aturar o mau feitio do chefe).

A política de educação dos Governos desde Cavaco Silva tem sido de uma irresponsabilidade absoluta. Revisão inexplicável dos currículos, experiências dignas de um cientista louco, os alunos meras cobaias de vaidades de quem quer que estivesse, nessa altura, no ministério.

Nos anos de Sócrates, um aldrabão que vive de aparências, a obsessão dos responsáveis passou por um princípio básico: para melhorar o sucesso escolar, nada melhor que...passar toda a gente. É genial, não sei como ninguém pensou nisso antes.

Cada vez se aprende pior, mas cada vez temos menos reprovados. Bravo, grande líder Sócrates.

A última aventura do Governo é a revisão do Estatuto do Aluno. 

Até aqui, o sistema era já uma merda. Vejam-se as faltas. Um aluno podia faltar o que bem entendesse mas, ao fazê-lo corria o risco de chumbar. Corria o risco, atenção, isto não é automático. Não, coitadinhos dos meninos, lá se ia fazer uma coisa dessas à geração mais privilegiada que este país alguma vez teve.
O sistema era giro. Para quem tivesse muitas faltas não justificadas, havia uma "prova de recuperação". Basicamente um puto podia faltar o ano todo, e fazer essa "prova de recuperação". E o que acontecia se chumbasse nessa prova? Chumbava? Não, apenas corria esse risco. A decisão cabia, nesse caso, ao conselho de turma, que podia então tomar a decisão de "reter o aluno". Espectáculo.

Mas agora, achando eventualmente que mesmo isto era ser muito duro com os meninos, acabou-se essa possibilidade de o tirano conselho de turma reter no mesmo ano um coitado de um aluno que faltou o ano todo e conseguiu chumbar na "prova de recuperação". Finamente alguém teve bom senso.

Agora, a consequência é o aluno ser submetido a "medidas cautelares", como fazer trabalhos na escola.

Mas pode passar na boínha.

E a ministra Isabel Alçada explica: "Sentimos que não devemos associar a ausência da escola à repetência". Bravo. É tão boa que vou experimentá-la no meu trabalho. Não apareço um ano inteiro, a ver se eles me aumentam.

Para além da aberração que tudo isto constitui, também gostei muito da reacção do BE e do PCP, que "lamentam o sentido punitivo das alterações". Pá, foda-se, vão cagar para a mata. Vão voar no meio das libelulazinhas, fumar grandes bongos, deixar crescer a sovacada e não tomar banho. Punitivo? What the fuck?! Punitivo era o meu paizinho, que se eu chumbasse por faltas me enfardava pela medida grande. E saí direitinho.

Já chega desta pseudo-esquerdice lírica e idiota, que trata todos os meninos como coitadinhos. Estão a criar uma bela geração, assim.

Termino esta já longa mensagem com as palavras de Maria do Rosário Gama, directora de uma Escola Secundária e, curiosamente, militante socialista: "Continua a promover-se uma cultura de facilitismo com o objectivo de promover o sucesso nas estatísticas a qualquer preço. Não faz sentido substituir as provas de recuperação por medidas de apoio pedagógico diferenciadas que já são aplicadas, nem continuar a proteger os alunos que faltam sistematicamente e de forma injustificada. De que serve suspendê-los se as faltas não contam para nada? Sei que isto não é politicamente correcto, mas os chumbos deviam voltar".

Ah, fascista do caralho!

4 comentários:

o homem do estupefacto amarelo disse...

Relativamente à parte dos chumbos deverem voltar, as coisas não são assim tão simples. Quando se comparam os resultados escolares dos países da OCDE utilizando o mesmo instrumento de avaliação (o PISA), a Finlândia tem ficado em 1º lugar neste ranking internacional e o sistema escolar finlandês não tem a figura da reprovação. Em alternativa à medida cara e pouco eficaz do chumbo, as escolas finlandesas apostam todos os seus recursos na detecção precoce das dificuldades de aprendizagem e na implementação de programas de recuperação rigorosos para estes alunos. Não confundir com o modelo português em que grande parte das passagens são apenas administrativas: os putos finlandeses passam todos porque todos adquiriram efectivamente as competências mínimas (como os resultados nos rankings internacionais vêm demonstrar). Não são os chumbos que resolvem o que quer que seja. E as razões são empíricas, não ideológicas.

funafunanga disse...

Pois, mas se fores ver o tipo de envolvência da criança média finlandesa, o acesso a livros e bens culturais em casa e nas comunidades onde vivem, percebes que mesmo antes de porem um só pé na escola, já levam vantagem ao puto da classe média criado no Cacém - ou em Fornos de Algodres nem se fala. É claro que com crianças de meios cultos (sejam suecas, portuguesas ou moçambicanas) é possível ter uma abordagem mais liberal, sem chumbos, com as crianças a terem mais autonomia na definição dos ritmos de aprendizagem (modelo Escola Nova), etc. O triste é que com crianças pouco familiarizadas com um registo culto não digo que a intimidação e a porrada resolvam tudo, mas o que é certo é que ajudam uma percentagem a endireitar-se e chegar a algum lado na vida.

Os modelos nórdicos resultam bem COM OS NÓRDICOS. A sua importação pura e simples para situações sociais diferentes normalmente dá asneira.

PIGS são as putas que vos pariu disse...

Subscrevo, funafunanga.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Estás enganado, caro Funafunanga. Não se trata de nenhuma especificidade escandinava: os estudos empíricos têm demonstrado que a reprovação é uma medida ineficaz em todos os países estudados. O problema principal da educação é que se discute demasiada ideologia, defendendo-se irracionalidades (algumas de direita, outras de esquerda) sistematicamente refutadas pela investigação empírica.