quinta-feira, 13 de maio de 2010

Papamóvel Superstar


Papa, perdoa-me, eu pequei. Apesar de desprezar tudo aquilo que representas - conservadorismo, obscurantismo, desigualdade e intolerância - vendi todos os meus princípios pela reles tolerância de ponto dada hoje em teu nome, inaceitável num Estado laico, inoportuna em tempos de crise e discriminatória face ao sector privado.

Papa, perdoa-me, eu pequei. Apesar de me repugnar o assassino apelo que fizeste à não-utilização de preservativos quando visitaste países africanos assolados pelo flagelo da Sida, sujei as minhas mãos com o teu sangue ao me ter aproveitado igualmente da tolerância de ponto dada terça à tarde em teu nome.

Papa, perdoa-me, eu pequei. Apesar de me revoltar a tua hipócrita defesa do valor da vida - sabendo tu perfeitamente que é a vida das mulheres que está em jogo quando tu as tentas empurrar para o drama do aborto clandestino - seria capaz de distribuir uns panfletos com fotos de fetos com três dias a jogarem sudoku se me prometessem mais uma semana de férias.

Papa, perdoa-me, eu pequei. Apesar de me indignar que pregues a igualdade com uma mão e pratiques a discriminação com a outra - condenando os homossexuais e interditando o acesso das mulheres aos lugares de poder da tua instituição - seria capaz de apedrejar panascas em troca de uma reforma antecipada aos 32 anos sem penalização.

Papa, perdoa-me, eu pequei. Apesar de lamentar o funcionamento não democrático da tua instituição - em que uma oligarquia de sessenta cardeais jarretas decidem de cima para baixo o que é que todos os outros membros da igreja devem fazer, policiando e sancionando os desvios à sua doutrina - excomungaria de bom grado a mínima demonstração de dissidência teológica, se me garantissem que o fim-de-semana seria alargado para sete dias semanais.

Papa, perdoa-me, eu pequei. Apesar de me nausear com a tua moralzinha salazarista - que associa o pecado ao prazer, que condena a sexualidade fora do casamento, que se opõe à educação sexual, que censura o planeamento familiar e que rejeita o divórcio - seria capaz de ter quinze filhos em troca de não me foderem diariamente no campo de concentração a que se convencionou chamar "local de trabalho".

Amén.

3 comentários:

funafunanga disse...

E esses panascas que dão reforma antecipada estão quietos enquanto a gente os apedreja ou andam a correr e a esbracejar dum lado pró outro feitos mariconsos?

early bird disse...

gostei gostei.
concordo em absoluto.

^^

o homem do estupefacto amarelo disse...

Vai um vodka tónico por conta da casa para os clientes sentados nesta caixa de comentários.