terça-feira, 11 de maio de 2010

Porreiro, pá

Algures entre a vitória do Glorioso e a chegada do Papa, uma conjugação de eventos que só poderia ser superada se, em cima disto, a Amália ressuscitasse, TUNGA! De fininho, o nosso grande líder espiritual José Sócrates anuncia um aumento de impostos. Primeiro é o IVA - o mais cego de todos os impostos - como lhe chamaram. Se bem se lembram, este espectacular imposto que há em tudo o que se compra, foi reduzido há pouco mais de um ano. Manuel Pinho havia decretado que a crise havia partido para não mais voltar, vinham eleições a caminho, e o IVA, esse malandro, foi cortado num ponto percentual. E agora toma lá morango, vai subir em pelo menos dois pontos percentuais. Espectáculo.

Entretanto foi anunciado que o Estado ia atacar o verdadeiro problema deste país, os reformados. Esses facínoras de andarilho, jogadores compulsivos de bingo e grande apreciadores de óleo de fígado de bacalhau, são esses cabrões que andam a lixar isto tudo. Não todos, claro. Só os mais merdosos entre os merdosos, os lambões que ganham a pensão mínima, que é pouco mais de 200 euros. O Estado quer saber se esses gulosos têm outras fontes de rendimento, porque se tiverem...ai ai ai, vão ficar sem a reforma de luxo, seus magarefes! Por acaso, a senhora minha mãe está nesta situação. Apesar de trabalhar desde os 12 anos de idade, descansando apenas ao domingo, para criar dois filhos praticamente sozinha, tem uma reforma de 230 euros. Isto porque, devido a falta de informação e patrões pouco escrupulosos, descontou muito pouco. E porque o tempo que trabalhou em Angola - que na altura fazia parte do Estado português - não foi considerado, devido a um mero problema burocrático. E a senhora minha mãe, com 66 anos, trabalha hoje em dia em part-time. Sim, é uma das perigosas lambonas que papa a reforma e o ordenado. PORQUE NÃO CONSEGUE VIVER COM A MISÉRIA DE MERDA QUE ESTE PAÍS LHE PAGA, DEPOIS DE UMA VIDA DE TRABALHO.
Foda-se.
Isto foi anunciado, depois desmentido, depois algures no meio. Ainda não percebi como esta brincadeira vai terminar, mas já estive mais longe de começar aos tiros. A ver vamos.
Por último, a ideia peregrina de criar um imposto especial sobre o subsídio de férias/natal. Uma taxa especial de IRS sobre esse rendimento de todos os portugueses. Mas só nesse mês, que o nosso Governo é gente com coração mole.
Porreiro, pá.

Na verdade, é algo injusto culpar o bando de malfeitores liderado por Sócrates de tudo isto. Parte da culpa vem da Merkel e outros que tais, que para aprovar o plano de salvamento europeu exigiram que nós e os nossos amigos borra-botas apertássemos ainda mais o cinto. E Sócrates, o mestre do marketing, ainda não percebeu como há de vender isto: se como uma imposição do exterior, que lhe retira autoridade e nos deixa ao nível de um país da América Latina nos anos 80, se como uma medida de austeridade por si decidida.

Na verdade, não é importante. Seja de quem for a culpa, estão-nos a foder porque já andamos há décadas a ser fodidos à bruta por quem nos governa. Estamos a pagar, os mesmos do costume, por toda a merda feita por essa gente, que agora aparece com semblante carregado e pose de Estado como se estivesse compenetrada com a missão de nos salvar.

FORAM VOCÊS QUE NOS FODERAM, OK?

Toda a gente sabe. Quanto a cortes na despesa, nas despesas absurdas do Estado obeso e dominado pelos aparelhos partidários, nada. Corta-se uma estradeca, TGV é só de Setúbal a Borba, vamos ao bolso aos idosos, cortamos os apoios sociais, e já está. O resto é do lado da receita.

O Estado esbanja (ainda por cima no que não deve) e a gente paga.

A verdade é que, até às presidenciais, o Governo não cai. Depois se ganhasse o Alegre, o Governo nunca cairia. Se ganhar Cavaco, a ver vamos, sendo certo que o presidente eleito não pode dissolver a AR nos primeiros seis meses de mandato. Vamos continuar a levar com este governo corrupto e incompetente, que todos os dias mostra não ter um rumo e estar de cabeça perdida, sem saber que raio fazer. Esse é o principal problema da troupe de saltimbancos de Sócrates: Passaram uma data de anos a brincar ao marketing e à politiquice, e não ganharam absolutamente nenhuma experiência numa coisa que agora até dava jeito: saber governar.
Agora que nem o marketing funciona, temos à vista, finalmente, o absoluto vazio que é este Executivo.

E sim, eu sei que o Passos Coelho é outro merdas.

Mas uma poia de cada vez, se faz favor.

2 comentários:

funafunanga disse...

Não, a culpa não é da Merkel que nos obriga a apertar o cinto. A culpa é de quem, à semelhança de muitos particulares, teve um Estado a gastar mais do que as suas posses. 80 e tal % do PIB em dívida externa? Sim, o Japão está em 100 e tal por cento, mas não só não considero o imperío do sol nascente como exemplo a seguir em termos de contas, como não nos podemos comparar com uma das economias mais dinâmicas e produtivas do planeta - se o tentamos, pomo-nos a jeito para algo bem mau.

Chegamos a uma conclusão importante: o Estado social, tal como o conhecemos, num país pobre como Portugal, não é compatível com a megalomania nos salários de topo, grandes obras, despesismos e mordomias. Não há dinheiro para tudo. Solução:
- cortar radicalmente no topo para redistribuir? - acarreta fuga para o sector privado das pessoas com mais mérito (não digo que o Estado seja uma meritocracia, porque não é, mas há-de haver meia duzia de papalvos competentes de agarram as pontas disto)
- Adaptar o Estado Social, dando lugar a certa participação dos privados em questões de cobertura de saúde e reforma? Há uma aversão muito grande a situações desse tipo - o Estado paga mal, mas paga certo, enquanto os privados estão sempre à procura de forma de se furtar a despesas (quem já teve de accionar seguros sabe do que falo).

. disse...

O problema é faltar quem dê o primeiro tiro.
Tenho orgulho nos gregos.