quinta-feira, 3 de junho de 2010

Três autogolos e uma expulsão no mesmo lance

Não tenho nada de especial contra os judeus, não mais que o mesmo vago preconceito que tenho contra os alemães, os americanos, etc. Em termos étnicos, os ciganos têm, basicamente, o monopólio do meu preconceito étnico.
Também na sociedade portuguesa, não há grande coisa contra os judeus, ao contrário do que ainda acontece muito por esse mundo fora. Quanto muito há uma vaga inveja porque achamos que eles são todos ricos (temos ideia que os únicos judeus que há cá são ricaços).
Aquilo que me chateia nos judeus é a mesma coisa que tenho contra quaisquer gajos que têm a mania. Faz-me confusão um povo que se considera "o povo escolhido". Atão e os outros? Os tugas, os árabes, os camones? Não gosto de tipos que se acham mais que os outros, e não há maior cagança do que se achar parte do povo escolhido por deus. Ah, e também me irrita um bocado os rituais neandertais de usar touquinhas na mona e fazerem cerimónias com juvenis numa língua que ninguém entende.
Adiante.
Nesta história do ataque israelita aos barcos turcos, Israel meteu um monumental autogolo. Não me interessam as tecnicalidades de se eram águas internacionais ou não, se foram atacados com cadeiras (responderam com balas, para matar), etc. Fizeram merda da grossa. Também me irritam os activistas que lá iam, uma espécie de freaks dos cães mais à séria. Mas enfim. Não mereciam levar tiros nos cornos.
O que é fodido é que isto agora mete os turcos. Os turcos são um povo orgulhoso, determinado e beligerante por natureza. E são doidos o suficiente para partir para a porrada.
O embaixador de Israel em Portugal foi o tipo que eu ouvi descrever, com mais clareza, a posição daquele Estado. Disse o senhor que preferia mil vezes ouvir a condenação da comunidade internacional do que enviar cartas de condolência às famílias por morte de israelitas. Apreciei a frontalidade. Resumindo: "estamo-nos bem a cagar para o direito, para a lei e para a comunidade internacional". E se fosse o Irão a fazer isto, ou qualquer outro daqueles países "dos maus", que não tomam banho?

Li recentemente um livro, "O regresso do hooligan", do romeno Norman Manea, que por acaso esteve em Portugal para promover o livro. Neste, ele revela a sua vida na Roménia, que como muitos outros países levou primeiro com os nazis e depois com os comunistas soviéticos. Muitos judeus romenos - e isto aconteceu noutros países - partiram para Israel em diversos momentos. "Convidados" a, se quisessem, ir para Israel, obviamente sob a ameaça pouco velada do que aconteceria se ficassem. O próprio pai de Manea viveu os seus últimos dias em Israel, acabando num lar de terceira idade em que um jovem voluntário alemão lhe dava banho e de comer, numa ironia histórica. E isto fez-me perceber melhor a existência do estado de Israel. O último reduto dos judeus de todo o mundo, uma vez que todos aqueles que têm comprovadamente sangue judeu têm garantida nacionalidade israelita. Embora seja óbvio que, aqui, há uma xenofobia gritante (direitos étnicos acima de tudo o resto), percebi melhor o espírito da coisa. Israel é, em teoria, o último reduto de um povo (?) que, ao longo dos séculos, foi perseguido um pouco por todo o mundo, e também em Portugal.
Mas a verdade é que nenhum povo pode querer ser respeitado sem respeitar os outros. E, sobretudo, um povo tão agredido e expulso de todo o lado não pode, obviamente, fazer o mesmo a outros, como acontece há décadas.

Ninguém sabe a resposta para isto nem ninguém sabe como se resolve. É a história do ovo e da galinha. Eu não sei se Israel sai e os palestinianos respeitarão o Estado de Israel. Ou se o vão bombardear de volta à Idade Média. Ou vice-versa. Mas acho que a única via é Israel sair de onde não tem que estar e esperar para ver.

Até lá vai ser isto. Guerra, terrorismo (de pedras e de rockets de um lado, de Estado do outro), mortes. E a comunidade internacional a condenar e a não fazer nada, e os EUA embaraçados mas, como é óbvio, com o lobi judeu a manter os EUA no apoio, de facto, a Israel.

Entretanto, os palestinianos vão vivendo na miséria e na doença, e os jovens playboys israelitas vêem as suas passeatas interrompidas por incómodas chuvas de rockets.

Ninguém ganha.

2 comentários:

professor x disse...

No meio de tanto disparate que leio na net, jornais principalmente, é aqui no tasco que páro para momentos de lucidez como este. Subsecrevo cada palavra, ainda não li o livro mas vi a entrevista do Manea na 2. Cumps.

funafunanga disse...

Israel está mal estacionado. Tanta ilha tropical para restabelecer a terra prometida de Deus, e tinham de se ir meter naquele buraco, rodeados de monhés aziados a querer fazer-lhes a folha.