segunda-feira, 5 de julho de 2010

Money gives you money honey


Os clássicos são aqueles que, relidos em qualquer época, permanecem sempre actuais. É precisamente isso que acontece com esta crónica do Eça - escrita há mais de cem anos - sendo quase arrepiante a modernidade com que satiriza o capitalismo americano.

"Três. Três americanos completos, desde os chapéus até ao génio. Direitos, secos, hirtos, firmes, com o seu andar recto e rijo, o peito saliente, como uma proa segura que corta o destino, os pés largos e vastamente pousados, o ar sério e apressado. Vêm de desembarcar do paquete. É em Lisboa. Só aqui, entre estas figuras incaracterísticas e banais, que amolecem as ruas, as suas pessoas originais têm o relevo pitoresco e o destaque especial.

De onde vêm? De toda a parte. Para onde vão? Para o dinheiro. Tudo na sua figura revela este caminhar resoluto e direito para o ganho; no rosto, nos gestos, na toilette, nas rugas, nas barbas, sente-se a grande vontade contemporânea - lucrar depressa. O nariz erguido fareja subtilmente o metal. O olho firme olha para a frente magneticamente. Os lábios finos contraídos, económicos de palavra, parecem secos da quantidade de cifras que têm pronunciado. Os fatos são curtos, cortados, fatos de agilidade e de movimento, que indicam a pressa, a áspera carreira atrás do dólar. Poucas malas que embaracem e retenham a actividade. (...) Mas sobretudo o andar. É ele que revela o homem de lucro: nada é indolente, distraído, flaneur, naquele andar mecânico, conciso e sôfrego: cada passada é um acto de tomar posse, as solas rangem de impaciência." (Eça de Queirós, in "Notas Contemporâneas)

Quando eu for grande, quero ter um bigode ridículo e escrever assim.

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