segunda-feira, 26 de julho de 2010

O gene hipócrita


O aparecimento do gene hipócrita foi um facto tão relevante para a evolução da nossa espécie como a postura bípede e a invenção do papel higiénico. Contrariamente a esta última aquisição, a hipocrisia apareceu provavelmente nos primórdios da humanidade, logo que o primeiro homem das cavernas se apercebeu que ninguém conseguia espreitar para dentro dos seus pensamentos, podendo então ocultar dos outros as suas reflexões mais inconvenientes (do tipo, "a minha mulher ficaria mesmo chateada se descobrisse que eu tenho um fraquinho pelo nosso mamute").

Para percebermos o quanto a hipocrisia é um atributo inseparável da nossa espécie, pensemos por um momento em como seria o mundo se os nossos pensamentos pudessem ser directamente escrutinados pelos outros. Responda siceramente. Quanto tempo conseguiria manter o seu emprego se tudo o que pensa sobre o seu patrão fosse tão transparente como os vestidos da ex-deputada Cicciolina e a inépcia política do Passos Coelho? Quanto tempo duraria a sua tia velha com problemas cardíacos se ao lhe oferecer pelo trigésimo Natal seguido outra vez aquelas meias brancas que tão profundamente odeia, o sorriso amarelo que tentasse esboçar fosse imediatamente denunciado pelo seu verdadeiro desejo assassino totalmente escancarado? Nenhum sistema humano (nem sequer a sólida díade genro-sogra) poderia perdurar sem uma dose mínima de hipocrisia. Quem disser o contrário, está a ser, evidentemente, hipócrita.

2 comentários:

Dylan disse...

eehheeh, elementar, meu caro!

o homem do estupefacto amarelo disse...

Saudações não hipócritas, caro Dylan.