quarta-feira, 4 de agosto de 2010

But we're trash, you and me

Devido aos efeitos da crise internacional, a Corticeira Amorim teve o ano passado 3,5 milhões de euros de prejuízo. Não obstante o facto de Américo Amorim ser o homem mais rico de Portugal e o 212º mais rico do mundo (com uma fortuna avaliada em mais de 3 mil milhões de euros), e, portanto, com uma enorme margem de manobra para preservar todos os postos de trabalho a seu cargo e assumir ele próprio o ajustamento necessário (suportando uma diminuição temporária dos seus dividendos) – não teve qualquer pudor em avançar com um despedimento colectivo de 150 trabalhadores.

No primeiro semestre deste ano, a Corticeira Amorim teve um aumento de 9,2% das vendas e um lucro de mais de 11 milhões de euros.

Este episódio ilustra bem duas das premissas fundamentais do liberalismo moderno. Primeiro, o trabalho é concebido como uma mercadoria como outra qualquer, pelo que o despedimento de 150 trabalhadores tem o mesmo estatuto do que uma redução de custos equivalente em empilhadoras ou em caixas de pionaises. Segundo, a variável de ajustamento é sempre o Trabalho e nunca o Capital, pelo que numa situação de declínio da procura são mantidos na íntegra os dividendos dos accionistas, recaindo a totalidade do ajustamento sobre os trabalhadores (através da redução de privilégios, cortes salariais, lay-offs ou despedimentos).

Bem sei que a canção Pop perfeita que adicionei aqui em baixo nada tem a ver com este tema, mas achei que há qualquer coisa no seu refrão que, não sei bem porquê, encaixava aqui bem.

5 comentários:

Little Bastard disse...

Belo comentário, melhor música.

Foi com esta bela melodia que descobri uma das bandas fundamentais de boa parte da minha vida.

funafunanga disse...

Boa análise. Mas não são só duas premissas do liberalismo moderno - toda a economia capitalista se baseia nelas. Porque é que o reajustamento recai sempre sobre os trabalhadores - tem a ver com a lei da oferta e da procura.

A ideia liberal está em supor que essas mesmas condicionantes façam com que o trabalhador depressa encontre outro emprego.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Funafunanga, compreendo o que dizes: capitalismo é sempre capitalismo. No entanto, nem sempre houve um desequilíbrio tão acentuado entre o Capital e o Trabalho como na sua actual forma. No capitalismo do pós-guerra (1945-1975), um quinhão considerável dos ganhos de produtividade era distribuído pelos trabalhadores (o que conduziu então a uma diminuição significativa das desigualdades). A reforma ultra-liberal operada a partir do final dos anos 70 (e protagonizada por Reagan e Thatcher) destruiu esse equilíbrio, agravando o fosso entre os rendimentos provenientes do capital e os rendimentos provenientes do trabalho, impondo sempre o ónus do ajustamento sobre os últimos.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Bastard, continuo a achar que o primeiro álbum é melhor do que este (apesar do Coming up ser também muito bom), mas, tendo em conta que foste tu que me contagiaste o vício pelos Suede, não me sinto muito qualificado para insistir nesta posição.

Little Bastard disse...

sim, cala-te, não percebes nada desta merda.