Neste país, o poder e os recursos estão nas mãos de poucos milhares. Estes poucos milhares estão nos gabinetes governativos ou de empresas públicas, nas grandes empresas privadas que dormem com o poder, nos partidos políticos. Todos bem montados, em gabinetes com ar condicionado e secretárias eficientes e bem feitas.
Este poder é a génese de um país esquizofrénico, que ignora os seus. Mais, despreza-os, com o seu cheiro a vinho e a sardinha.
Enquanto os poderosos, que se rebolam no seu poder como pobre parolos que as nossas “elites” são, o interior rapidamente morre. Já não é só a emigração, como noutros tempos, até porque esta se dá agora, com igual força, nas cidades, com a fuga de jovens qualificados, desiludidos com um país no qual não têm espaço, uma vez que todos os lugares de relevância lhes estão tapados. Quem chegou primeiro alapou-se, e não há demérito que os faça saltar do tacho. Quem tem talento e olha para a possibilidade de ter uma boa vida no seu país, não vislumbra qualquer esperança. Não interessa se é qualificado, se é bom, se é competente. A geração que fez o 25 de Abril e a que veio a seguir aburguesou-se, tomou conta de tudo, e aí ficará até morrer. No outro dia, vi na televisão um homem que perdera tudo nas cheias do Paquistão. Chorava e queixava-se do desprezo do Estado perante o seu desespero. Dizia ele: “O Estado é como um pai, tem que valer aos seus filhos quando eles precisam. Se não fizer isso, que tipo de pai é este?”.
Nem mais.
Enquanto o interior, malcheiroso e atrasado, procura sobreviver, os senhores dos gabinetes vão procedendo à sua meticulosa e vertiginosa eliminação. São escolas e hospitais que fecham, estradas que começam a ser taxadas, empregos e oportunidades que desaparecem.
E vem agora o nosso ministro da Administração Interna chorar lágrimas de crocodilo por causa dos incêndios. E falar do estado das matas, do abandono, da falta de cuidado. As matas são o melhor reflexo do que os senhores dos gabinetes estão a fazer a este país. É o abandono, a que se segue, inevitável, a destruição e a morte.
Nestes dias, em que Portugal sofre na carne a chaga dos incêndios que destroem a parte mais bela deste país, há homens e mulheres que, na defesa do que é também nosso, dão o suor, o sangue e a vida. Por entre as chamas, enfrentando o medo, o calor e a exaustão.
O próprio conceito de bombeiros voluntários é de uma ingenuidade e de um anacronismo que me enternece. Não conseguimos perceber este conceito, tal como nos pareceria bizarro haver médicos voluntários ou polícias voluntários, ou homens do lixo voluntários. Mas há bombeiros voluntários. Que nada recebem e que enfrentam a morte. Gente como João Pombo e Cristiana Josefa Santos, dois bravos soldados que perderam a vida esta semana, em pleno combate.
Estes, como todos os bombeiros deste abandonado país, são os Heróis do país real. De nós merecem tudo, ou pelo menos a nossa profunda gratidão.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
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2 comentários:
Subscrevo na íntegra esta justa homenagem.
este blog sim, é serviço público. já ando a mandar o link para os meus contactos. continuem, vocês são do melhor.
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