Em primeiro lugar, porque, aos 90 anos, está a preparar uma nova versão cinematográfica de “Fahrenheit 451”, o livro que lhe deu fama, que já foi alvo de uma versão de Truffaut, em 1966.
Em segundo lugar, porque diz que “os EUA têm demasiado Governo”, na boa tradição liberal norte-americana, e que “Obama fez mal em cancelar o regresso à Lua”. Defende que “devíamos fazer uma base na Lua, e depois colonizar Marte”.
Enfim, um tipo de 90 anos que já deu tanto pode dar-se ao luxo de dizer disparates. E o impacto das notícias, em mim, foi outro. Foi “mas este tipo ainda é vivo?”
Para mim, Bradbury será sempre um amante dos livros, o que lhe dá, na minha contabilidade, bastantes créditos. O próprio “Fahrenheit 451” é um pequeno romance futurista, no qual os EUA proíbem os livros, em benefício de outras formas de entretenimento mas inócuas, controláveis e que façam pensar menos, como a televisão. E isto só pode vir de alguém que, realmente gosta muito de livros.
Bradbury, tal como HG Wells e George Orwell são responsáveis por algo significativo, mostrar que a ficção científica não é um género menor. Antes pelo contrário. É um preconceito que também afecta outro género, o policial, e que é igualmente injusto.
Mas para mim, Bradbury será sempre o tipo que relembra os tempos de escrita dos primeiros anos. Tinha um emprego, e todas as tardes ia para a biblioteca Powell, na Califórnia, armado de um jarro cheio de moedas. É que aí era possível aceder a máquinas de escrever, que funcionavam a moedas. E foi aí, no fresco da biblioteca, que se atreveu a sonhar.
Que se atreveu a sonhar que se podia libertar da vida que levava, de um trabalho insignificante que ameaçava matar-lhe a criatividade.
2 comentários:
quando li pensei a mesma coisa, o gajo ainda é vivo?
bom post!
Está numa cadeira de rodas, mas vivinho da silva, e ainda escreve.
Vai lançar em breve uma nova colectânea de contos marcianos!
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