Acenava, acenava, acenava. De sorriso estampado no rosto. Nunca falei a sério com ele, passei quase sempre de carro, e acenava sempre, e quando ele estava distraído e não retribuia, apitava, e lá vinha o sorriso e o aceno. E quando o apanhava num semáforo, abria o vidro e desejava-lhe boa noite. Ele retribuía.
Bastava isso.
Era um símbolo de calor e de humanidade numa cidade cada vez mais desumana, cada vez mais abandonada, cada vez mais fria. Fazia-me sorrir, e sentir bem por dentro.
Esta noite, mais de 100 pessoas juntaram-se num dos seus poisos habituais, a praça do Saldanha, e acenaram aos carros.
E isto, nos dias que correm, comoveu-me.
Foi o gesto derradeiro deste homem. Juntar pessoas na rua, acenando. Comunicando.
Obrigado, João.
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3 comentários:
Bom... tens opiniões vincadas :p mas fazem todo o sentido. Gostei de retratares a família disfuncional em que a Europa se tornou. Esperamos pela última ceia, então?
Congrats pelo blog.
Very Best Hug, amribeiror
Daquelas raras pessoas que nos deixam a acreditar ainda um pouco na boa natureza do ser humano.
Aquele gesto gratuito a meio da madrugada era um verdadeiro serviço público. Por mal que o dia corresse, sabias que ali tinhas a dose mínima de humanidade diária para levar para o caminho.
Um gesto tao simples e banal e que nso marcou tanto, vindo de um estranho. Quando soube, chorei como se me me tivesse morrido alguem familiar...nao pude ir ao seu velorio publico, numa homenagem sentida de amizade, mas a cidade vai sentir a sua falta.
os lisboetas sao esquisitos, e nao estao habituados a grandes manifestacoes alheias, tenho uma posta sobre isto, mas ta no lume.....e agora vou fazer uma sesta.
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