quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Vergonha Mínima Nacional

Há coisas que, de tão previsíveis, perdem a pouca piada que poderiam, hipoteticamente, ter.
A novela do salário mínimo parece um daqueles enredos da TVI, em que desde o princípio já se percebeu o fim mas eles lá vão enchendo o chouriço, com voltas e reviravoltas de enredo que não convencem ninguém. Infelizmente, nesta novela do Governo, há a Helena André em vez das mamas da Rita Pereira ou de qualquer moranguita de 15 anos.

Isto vinha a ser preparado há muito tempo. Perante os sinais que se avolumavam, os cabrões dos jornalistas tiveram a ousadia de fazer o seu trabalho e perguntar repetidamente aos ministros se seria mantido o COMPROMISSO FORMAL de aumentar o salário mínimo para os 500 euros. Todos eles fugiram à questão, atiraram areia para os olhos da malta, enfim, fizeram o que esta malta xuxa está habituada a fazer, tratar todos como idiotas. Para o desfecho que se conhece hoje. O salário mínimo nacional aumenta uns generosíssimos 10 euros, um luxo. E fica 15 euros abaixo do que estava acertado por toda a gente: sindicatos, patrões, governo.
Tudo normal, portanto.
Há várias coisas que merecem ser salientadas neste dia de mais um episódio negro de política "socialista".
Em primeiro lugar a total ausência de Sócrates. Como tem sido cada vez mais comum, ninguém o viu, deixando Helena André e Vieira da Silva a entreterem o pagode com a velha rábula de "quantos ministros são precisos para mudar uma lâmpada/enrabar o povo".  
Depois, a postura tradicionalmente corajosa da UGT. Depois de um devaneio extremista no apoio à Greve Geral, vem agora assinar tudo, dizer que não faz mal, é na boa. E João Proença, esse gnomo da floresta, tem a desfaçatez de dizer, hoje, que "valeu a pena fazer a Greve Geral". Indeed.

Depois, a inefável Helena André. Esta senhora, que nos tempos de juventude/espinha dorsal era uma feroz sindicalista, está feita uma grande ministra xuxalista. Consegue negar todas as evidências, anunciar a morte com um sorriso, cagar com cheiro a malmequeres. Hoje apareceu, toda contente, a dizer que o Governo mantinha o compromisso de atingir o salário mínimo de 500 euros em 2011, tentando com uma vergonhosa questão de semântica fingir que não tinha quebrado um compromisso. Mais uma vez, os inconscientes dos jornalistas perguntaram que raio isso quer dizer. E a senhora, toda abespinhada com a irreverência das questões, lá veio dizer que, até Outubro, isso ia acontecer. Não vou sequer perder tempo a dissertar sobre o valor da palavra de qualquer dirigente xuxalista. Quero apenas reter o ar de satisfação com que ela disse isto, qual "Santa's Little Helper" obesa, ficando indignada por o seu anúncio não ter levado, no mínimo, ao lançamento de foguetes e a um ou outro peidinho de emoção. Agora vai ao cu ao povo, ao contrário do que tinha dito, e promete dar a pomadinha até Outubro. E esta merda deste povo mal-agradecido ainda faz cara feia?!

Por último, o boss dos patrões, cujo nome me escapa. Omitiu qualquer explicação sobre o motivo pelo qual é incomportável para uma empresa gastar mais 15 euros mensais nos salários mais baixos dos seus trabalhadores. Ainda bem que omitiu. A única coisa que digo é: se uma empresa arrisca falir se pagar mais 15 euros mensais aos seus trabalhadores que menos recebem, então que abra falência. Chega de chantagem e de palhaçada. 
Veio explicar o senhor que, nos últimos anos, o salário mínimo nacional aumentou 18%, e que a produtividade não beneficiou dessa melhoria. Voltamos à velha questão. Em todo o mundo, os portugueses são vistos como bons trabalhadores, e em todos os ramos, dos mais simples aos mais qualificados. Ou seja, não temos uma predisposição genética para a falta de produtividade. Mas cá não há produtividade. Será que é porque cá os "patrões" são portugueses, mais preocupados em comprar o novo Mercedes do que em fazer a sua empresa crescer sustentadamente?
Tudo isto, da parte dos patrões e do governo, é apenas a prova que faltava - se é que faltava - de qual o modelo que se pretende para Portugal e para os portugueses. O modelo dos salários baixos, da chantagem sobre os trabalhadores, das falinhas mansas e dos pseudo-compromissos nacionais que aproveitam sempre aos mesmos.

Este é o mundo de Sócrates, esse grande "socialista". Que tem sonhos molhados com o capital. Que vive num mundo de Ruis Pedros Soares, Varas e Mexias, em que os amigos são pagos a peso de ouro, explorando aqueles que, no dia a dia e no contacto com os clientes, trabalham no duro para encher o cu a umas dúzias de CEO's, tipos tão geniais, mas tão geniais que ninguém lhes pega sem ser por favor político. Sócrates, esse pacóvio armado em gestor, vê os de baixo como uma massa homogénea e sem rosto, cujo único papel é trabalhar, trabalhar, trabalhar. Porque, na sua visão mesquinha e provinciana, quem dá valor acrescentado, quem é realmente bom, são os seus amigos CEO. Esses sim, precisam de tudo, coitadinhos. 
Os outros são uma coisa apenas: carne para canhão.

Ainda haverá quem não queira ver?...

3 comentários:

papousse disse...

Portugal faz por merecê-los.
Que ninguém se diga enganado.

Fotógrafo do Diário da República disse...

A Helena André está a pôr o ovo?

Há que ser objectivo disse...

A Helena André está a pôr o ovo