segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Wiki-Waka

Anda tudo maluco com o Wikileaks. Com as histórias, os fait-divers, os processos do Assange, etc.
A minha posição é simples: estou a adorar e acho tudo muito bem.
Vamos por partes.
No que toca à correspondência consular da rede norte-americana, ou seja, dos seus embaixadores com a casa-mãe em Washington, há ali de tudo: tricas, irrelevâncias e bombas noticiosas de inegável interesse público.
A primeira coisa que me surpreendeu foi ver que, afinal, os embaixadores e quejandos afinal fazem qualquer coisa. Eu pensava que eles era só mamar, dar um cocktail por ano e estava feito. Afinal não. Eles lêem jornais, estabelecem contactos e depois reportam ao governo norte-americano. Já é refrescante saber que fazem alguma coisa, ainda que sirvam para muito pouco. E depois esforçam-se a escrever. Aquilo que me surpreende é que haja alguém, nos states, interessado em ler que o Alegre é um "dinossauro esquerdista" ou que o Cavaco é assaltado por espasmos incontroláveis de cada vez que está na mesma divisão que um bolo-rei. Eu gosto de ler estas palhaçadas, mas acho que é tempo perdido de quem as escreveu e de quem as divulga.
Mas depois há o resto. Os voos da CIA (isto tá tão mal contadinho....), o caso BCP-Irão, etc, etc. Coisas muito relevantes e das quais não saberíamos se não fossem estas "fugas".
Anda muita malta, como o Portas, acenando com o argumento de que os documentos são confidenciais e que a sua divulgação é um crime. É a mesma coisa que com as escutas do Apito Dourado ou do Sócrates a fazer trafulhices. Defendo o que sempre defendi: divulgação total e eles que se fodam.
Uma coisa é a vida privada, e aquilo que se liga exclusivamente a isso. É irrelevante institucionalmente e não merece ser devassada. Outra coisa são assuntos de inegável interesse público, no sentido em que acarretem, ou devam acarretar, uma responsabilização política ou ética/social por parte de titulares de cargos de interesse público.
Como já disse muita vez, a violação do segredo de justiça tem um grande condão: coloca os humildes na mesma posição que os poderosos, no que toca ao fundamental acesso à informação. São incontáveis os casos de Varas, Pintos da Costa, Paulos Pedrosos e Fátimas Felgueiras que tiveram acesso a informação privilegiada, e que com isso beneficiaram. Não vejo ninguém ir atrás disso. Mas quando a violação do segredo de justiça se destina a colocar todos no mesmo ponto de acesso à informação, cai o Carmo e a Trindade. E isto não aceito.
Eu quero saber. Não por curiosidade, não por voyeurismo. Mas porque há muita gente no mundo com muito poder, que ganha muito dinheiro e que tem uma vida muito mais fácil que 99,9% dos outros habitantes. No mínimo, a sua actuação tem que ser transparente e tem que ser conhecida. Porque se não conseguem exercer a sua actividade de forma limpa e clara, que saiam e dêem a vaga a outros.
O mundo anda há demasiado tempo a ser comido à bruta por uma pseudo-elitezinha de merda que vai sempre escondendo a sua mediocridade e o horror do seu comportamento atrás de segredos e regras burocráticas, que não têm, na maior parte das vezes, outro objectivo que não seja perpetuar os cargos, as mordomias e a pouca-vergonha.
Divulguem tudo. Doa a quem doer.  

3 comentários:

papousse disse...

Brilhante!

raviolli_ninja disse...

Todos os dias tenho ido lá espreitar se há uns documentozitos novos da embaixada em Portugal. De-li-ci-o-so!

Há que ser objectivo disse...

o assanje é tarado sexual