E pronto, lá enganámos mais uns tótós que compraram a nossa dívida. Coisa pouca, 1,25 mil milhões de euros, o nosso fix semanal.
Há que dizer que pagámos muito, mas menos do que se chegou a temer. É excessivo clamar vitória, como fez Sócrates, mas nas actuais circunstâncias foi uma prestação digna. Empatámos 0-0. Esperava-se pior.
A questão, no fundo, é bem simples:
Estamos a pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro a uma taxa de 6,7% ao ano. Tendo em atenção que o nosso PIB, a nossa "riqueza", não cresce mas sim diminui, isto dificilmente pode ser visto como uma boa notícia.
A verdade é que nós podemos continuar a financiar-nos a este custo ainda por muitos meses. A consequência é, nos próximos anos, pagarmos um balúrdio em juros (ainda mais do que o balúrdio que já pagamos). Por outro lado, há a possibilidade de recorrermos ao fundo de estabilização europeia e ao FMI. Estes emprestam-nos dinheiro a taxas de juro ligeiramente mais baratas (na melhor das hipóteses) mas, em troca, sucedem duas coisas: é o descalabro da credibilidade económico-financeira de Portugal, assustando potenciais investidores durante alguns anos; e temos de aceitar o tratamento de choque que eles exigem para nos emprestar dinheiro. Ora perante a austeridade que já estamos a sofrer na pele, isto seria desagradável, digamos assim.
A questão é que o FMI só vem se nós pedirmos. Mais concretamente se Sócrates pedir. Mas Sócrates nunca na vida - só em último caso - aceitaria perder a face desta maneira, sair do poder pela porta pequena, como o tipo que nos meteu nas garras do FMI. Acontece que ele já nos arruinou, que é o que interessa, o FMI acaba por ser apenas um detail, uma questão de honra ou desonra para Sócrates. Para nós pode ser mais um dildo com picos pelo cu acima.
Mas chegará o ponto em que estaremos a pagar ainda mais do que pagamos actualmente. E aí a questão é de uma simplicidade chocante: ou continuamos a financiar-nos a preços altíssimos, que nos vão foder à bruta durante três gerações; ou recorremos ao FMI, financiando-nos mais barato mas passando por um processo mais duro de ajustamento no curto prazo.
Acontece que Sócrates só obrigado aceitaria este último cenário. Preferirá arruinar-nos durante décadas, até porque não vai ser ele a pagar.
PS - Adorei ver, um dia antes, Alegre exultar com os números do défice anunciados pelo Pinócrates mas depois, curiosamente, a recusar-se a comentar a projecção de recessão para o nosso país, da autoria do Banco de Portugal
PS2 - Depois da emissão de hoje, Cavaco não resistiu. O homem não pode mesmo ver ninguém brilhar mais que ele, e fez questão de vir, indirectamente, desvalorizar os resultados, dizendo que é importante é saber quem comprou a dívida. Um comentário desnecessário deste grande homem de Estado...
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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