quinta-feira, 24 de março de 2011

You lose, motherfucker

Em primeiro lugar, para quem não me conhece, um disclaimer preventivo. Sempre votei, durante vários anos alternei entre o Bloco e o PC, tenho insistido neste último recentemente. E uma vez votei PCTP/MRPP para as eleições autárquicas. Pronto.

Ansiei muito por este dia. Muito, muito, muito.
Ainda assim não estou eufórico. Estou só contente e aliviado. É impressão minha ou, o homem só se demitiu há 3 horas, e já se respira melhor?

Há muitas faces desta moeda chamada situação política nacional. Cada partido salientará a que lhe convier, numa salganhada que dura há demasiado tempo e que, na minha opinião, só favorece quem não merece.

O meu ponto fundamental é: há ainda alguém que, não sendo filiado no PS, ainda ache que isto está bom? Ou até razoável?
Há ainda alguém que acredite seja no que for do que sai da boca de Sócrates?
Há ainda alguém que, cedendo à demagogia dos boys xuxalistas, ponha a "estabilidade política" acima de tudo? Acima de qualidade democrática, respeito pelos cidadãos, a verdade?
Há ainda alguém que ache que Sócrates ainda se assemelha, ainda que vagamente, a um primeiro-ministro, e não apenas a um razoavelmente talentoso vendedor de carros usados com defeito?
Há ainda alguém que duvide que a situação na qual nos encontramos se deve, não exclusivamente mas em grande parte, aos anos negros do socratismo?

Isto, para mim, é o fundamental. O resto é folclore, e disso vamos continuar a ter muito.

Discutiu-se de tudo: se Sócrates avisou ou não o presidente e os partidos, se o PSD é irresponsável, que todos estão unidos para fazer cair Sócrates e não têm qualquer plano para o futuro, etc, etc.
Basicamente, a partir de agora e desde há uma semana, entrámos no "blaming game". De quem é a culpa, é o novo desporto nacional. Mas, para respondermos a esta pergunta, temos de perceber primeiro a pergunta, ou seja, de que culpa estamos a falar. Para mim, a culpa que interessa é quem nos deixou nesta situação. Sócrates.
Quem mentiu desde o início e ainda agora.
Sócrates.
Quem andou amiguinho do PSD até ao momento em que lhe apeteceu esticar a corda e atraiçoar o seu fiel parceiro.
Sócrates.
Quem quis colocar toda a gente perante um facto consumado, já previamente preparado para a estratégia de vitimização, se a oposição tivesse a ousadia de resistir ao seu insuportável 'bullying' político.
Sócrates.
Quem faz questão de não perceber que já não tem maioria absoluta, para dizer uma coisa e fazer outra, sem ter de estender qualquer ponte seja a quem for.
Sócrates.
Quem sempre fez questão de cortar todas as pontes com o resto da Esquerda (e esta fez o mesmo) e agora faz-se de espantado por esta não ter vindo em seu auxílio.
Sócrates.

Tudo isto me parece óbvio.
Sócrates, na sua arrogância, não percebe que ele não só faz parte do problema como ele É O GRANDE E INTRANSPONÍVEL PROBLEMA. O PS, que se deixou manietar por este tiranete e atirou ainda para mais fundo da gaveta o socialismo, vai pagar caro esta perda de identidade.
Ainda hoje se viu a estratégia de Sócrates. Ou eu ou o FMI. Eu sou o Bem. Eu sou a Estabilidade. Eu sou o Estado. Eu sou Portugal.
Os outros que se fodam.

Mostrou o quão profunda e intrinsecamente anti-democrático é, quando abandonou o parlamento assim que o seu pobre ministro das Finanças acabou de falar. Recusou-se a ouvir, como era seu dever. Recusou-se a ser humilhado uma tarde inteira, como era de total e suprema justiça que acontecesse. Recusou-se, até, a falar, como se não tivesse que perder tempo com essa coisa de regras democráticas.
Sócrates morreu no dia em que perdeu a maioria absoluta, porque nunca soube nem nunca saberá governar pelo diálogo ou pela negociação. E depois da farsa com a aprovação clandestina do PEC IV, ainda tem a lata de dizer que os outros são irresponsáveis porque não querem negociar.

Lata, uma forma coloquial de dizer hipocrisia, que é a marca de água deste governo, e sobretudo desta triste personagem.
Já começou a campanha. E já se percebeu por onde vai. É a estratégia da vitimização até ao fim. E de deitar as culpas para cima dos outros, sobretudo o PSD, apesar de o PS ter estado no poder durante 12 dos últimos 14 anos.
Silva Pereira deu hoje o mote: "a partir do que sucedeu aqui hoje, quem tomou esta atitude fica responsabilizado pela eventual entrada de ajuda internacional em Portugal".
Claro. Não foram eles que fizeram a merda. Foi quem não lhes permitiu continuar esta doentia farsa. Esta é a estratégia, e está já montada ao milímetro.
A hipocrisia é tão grande que Sócrates teve a distinta cara de pau de "salientar a gravidade desta situação, de o nosso país ficar sem Governo na véspera de uma cimeira de tal importância". Com uma pequena nuance, caro Pinócrates: não foi votada qualquer moção de censura. Ou seja, o Governo demitiu-se porque quis. Porque optou pela chantagem total, de dizer que "eu, como eu quero, ou o abismo". Irresponsabilidade é um governo em funções, na véspera da tal cimeira, anunciar que ou votam como ele quer ou se demite. Isso sim é irresponsabilidade, tal como anti-democrático, porque quer atar, sob coação, as mãos aos partidos eleitos.

A campanha vai ser dura e vai ser feia. E vamos ter Sócrates e os seus acólitos a repetir até à exaustão a teoria da irresponsabilidade do PSD e dos outros. Como pode este partido falar de responsabilidade?
Vai ser vitimização, chantagem, mentiras, hipocrisia. Só espero, muito sinceramente, que os portugueses tenham finalmente aberto os olhos. Porque ser enganado três vezes já é demais.

Acredito sinceramente que o que aí vem não será melhor. Não tenho qualquer esperança. Mas sei que entre o que é comprovadamente merda e o que é provavelmente merda, esta última talvez seja preferível.

Se o PSD ganhar, é como ver o Sporting ganhar ao Porto (já aconteceu, eu lembro-me): fico contente por os corruptos terem perdido, mas não consigo ficar contente por os submissos terem ganho.

E Sócrates, pela atitude criminosa, prepotente, incompetente e tresloucada que marcou toda a sua carreira política, merece ser julgado. Tem de ser julgado. E castigado.
Ainda não foi hoje. Espero sinceramente que seja no dia das eleições, para saia do poder humilhado, como merece.

2 comentários:

Xuxi disse...

Homem então no dia em que eu regresso é que esta merda acontece? tinha eu ido pra rua celebrar a queda dessa governo infame e desse cabrao ignominioso!!
Assino por baixo deste post.

funafunanga disse...

Esperem pelas eleições, o bicho ainda tem algumas na manga e à vista da alternativa, não é certo que o gajo não acabe por sair por cima.