segunda-feira, 25 de abril de 2011

Festa amarga

É dia de celebrar, porque muito de fundamental foi conseguido nesse dia. Uma celebração amarga, dada a situação em que nos encontramos. O problema não foi o 25 de Abril. Foi depois. Para muitos, os excessos do PREC, as nacionalizações, a destruição da estrutura económica e a descolonização feita à pressa. Para mim, mais do que tudo isso, o grande mal, a grande amargura, veio depois. Porque depois da estabilização, podíamos e devíamos ter feito um caminho diferente. Um caminho que respeitasse os ideiais de Abril. Acima de tudo, a justiça e a solidariedade. Nada disso existiu neste caminho. Nasci em 1978, e creio poder dizer que, desde que vim a este mundo, não mais parámos de divergir e de trair aquilo por que alguns bons homens arriscaram a vida (e recuso qualquer responsabilidade neste campo!).
A geração do 25 de Abril, e a que veio depois, traiu tudo o que, nesse altura, se defendia. Um total aburguesamento, o doce torpor do consumismo, o carreirismo, a corrupção. A total falta de sentido cívico e de bem comum. A ausência de bom senso. O profundo egoísmo de quem só se preocupa em safar-se, mesmo que todos sofram.
Uma geração que quis, enquanto era tempo, ter tudo o que de bom a vida tem. Que consumiu lugares e recursos, à custa de todos nós, e que nos deixa contas por pagar, um país paralisado e descrente de si mesmo, uma profunda pena por não sermos o que, de facto, podíamos ter sido.
E desta geração, da nossa, o que esperar? Muito pouco, infelizmente.
Quando vejo tantos de nós sendo cúmplices desses oligarcas mais velhos, entrando avidamente no jogo dos compadrios e dos pezinhos de lã, tudo em troca de um lugarzinho bem pago e que dê pouco trabalho.... deixa pouco espaço para a esperança.
Quando vejo o PS ter mais de 30% das intenções de voto, assalta-me um desespero difícil de descrever. Quando penso que a alternativa é o Passos Coelho, apetece-me emigrar. Quando vejo Bloco e PC recusando sequer sentar-se com os tipos do FMI, só porque sim, sei finalmente que o meu voto nunca será convicto.
É tempo de outra coisa. É tempo de cada um de nós, individualmente, pensarmos que tudo pode ser diferente, se todos agirmos de forma diferente. Se nos deixarmos de bullshit, se perdermos o respeitinho ao chefe incompetente e ao político sem vergonha. Se, ao menos, tivermos a força de dizer "O rei vai nu".
Se formos melhores pessoas, mais verdadeiras, mais sólidas, mais verticais.
Talvez, assim, Abril se possa ir cumprindo. Um bocadinho de cada vez.

Tenham um bom dia, meus amigos.

3 comentários:

pablohoney disse...

ergo o meu copo para contigo celebrar este dia caro concidadão. faço votos que abril se cumpra e que nunca mais um filho da nossa terra seja coagido a dar o "salto".apenas melhores pessoas poderão trazer boa esperança a tanta tormenta

Dulce disse...

Esperava que neste dia, outros colaboradores do tasco viessem aqui opinar qualquer coisita.

Ainda bem que o Little Bastard é um provedor aplicado, senão não sei o que seria deste vodka atónito...

E já agora, gostei do texto. Também eu "quando vejo o PS ter mais de 30% das intenções de voto, assalta-me um desespero difícil de descrever. Quando penso que a alternativa é o Passos Coelho, apetece-me emigrar. Quando vejo Bloco e PC recusando sequer sentar-se com os tipos do FMI, só porque sim, sei finalmente que o meu voto nunca será convicto". Nem mais!

Little Bastard disse...

Provedor e provador!
O resto da malta estava concerteza (espero) na rua, a fazer a verdadeira da manif...