quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Fraude

Começa hoje aquela que é, sem dúvida, a maior fraude cultural de Portugal.
Falo, naturalmente, da Feira do Livro.
Eu explico qual é o meu problema com a Feira do Livro.
Eu sou de Carcavelos, terra de feira. E, para mim, feira quer dizer cenas baratas. Nem sempre de qualidade, mas sempre baratas. E ciganos, claro.
Na Feira do Livro, a esmagadora maioria dos livros não é barata. Mais, ou é cara ou tem um desconto qualquer irrisório. E depois há essa coisa fascista chamada "Livro do Dia", que consiste em meter umas centenas de tansos a comprar todos o mesmo livro em determinado dia. E normalmente é um livro bem manhoso.
Eu adoro livros. Leio constantemente e tenho pelo objecto um respeito quase reverencial. E acho que os livros são caros, demasiado caros (para além de quase todos os livros editados em Portugal terem capas absolutamente horrendas, o que me afasta de imediato da sua compra). Como tal, passo o ano à procura de oportunidades para encontrar livros mais baratos. Há alfarrabistas com fartura em Lisboa, e além disso gosto do ritual. Há a fantástica Livraria Galileu, em Cascais, onde no outro dia gastei 22 euros e trouxe seis livros em bom estado. E há a Fnac, onde compro também muito. É claro que, aqui, os livros são ao mesmo preço que nas livrarias. Excepto os livros estrangeiros, e é aí que reside o meu truque. Felizmente, tenho facilidade em ler em inglês, e tendo em atenção que grande parte dos meus autores preferidos escreve em inglês, tunga, é só encher o saco. E é uma coisa que ainda não percebi: porque é que os livros estrangeiros, feitos lá fora e importados para cá, são muito mais baratos que qualquer merda nacional acabada de editar? Não entendo.
Adiante.

O que quero dizer é que a história dos livros baratos, na Feira do Livro, é uma gigantesca fraude. Para mim, a Feira só tem um valor: levar os putos e fazê-los perceber que há uma festa do livro, e como tal o livro é uma coisa muito importante. Essa mística tem o seu valor. Mas como programa, ir à Feira do Livro é uma bela merda.
É onde o tuga vai para se sentir gente, para se sentir intelectualmente vivo. Para poder passar lá seis horas à torreira do sol e trazer meia dúzia de livros debaixo do braço. A maioria dos quais, obviamente, não vai ler, mas que lhe serve para não ter que se preocupar com isso o resto do ano.

Para quem, como eu, ama os livros, a Feira do Livro não serve para nada. Absolutamente nada.

É como aquela malta que diz que adora música mas só vai a um concerto por ano. E é dos U2.

3 comentários:

. disse...

agreed.

e passas a ser um bastardo mais considerado pela tua opinião quanto às capas dos livros, e pela boca da música.

respect.

Márcio Silva disse...

Bingo... alguém que me compreende ! :D

Radomir Antic disse...

Feira do Livro é coisa de gaja.