Bora lá directos à vaca fria.
Um desfecho relativamente previsível e que inequivocamente expressa o desejo de mudança. Não há volta a dar-lhe.
O vencedor da noite é, sem dúvida, Passos Coelho. Nunca foi bem visto dentro do seu próprio partido, que o olha como um maltrapilho suburbano, mas foi ele quem levou o PSD à vitória. À partida, ainda antes da campanha e das sondagens, a mera lógica diria que o PSD devia lutar pela maioria absoluta sozinho. Em qualquer país normal, isso aconteceria. E nunca ter estado perto, enfim, tira grande brilho à vitória. A questão é de expectativas. E, depois de ter chegado a haver dúvida sobre quem ganharia as eleições, ganhar com esta distância para o PS compensa essa primeira derrota à partida. Optou por uma campanha estilo suicida, procurando "falar verdade" quando sabemos que o tuga não quer ouvir a verdade; vincou o seu estilo liberal sem vergonha, o que é inédito em Portugal; quis discutir os assuntos, e com isso foi entalado por Sócrates enquanto este se aguentou. Mas ganhou, será o próximo primeiro-ministro, e de um governo de maioria absoluta. E mais, um trunfo que ninguém nunca lhe poderá tirar: de todos os que tentaram, foi ele a acabar com o mito do Sócrates invencível.
Portas é outro dos vencedores. Mas também aqui há uma dualidade: em termos de resultado final é muito bom; em termos de comparação com as expectativas, não é assim tão brilhante. Mas é uma vitória inequívoca. Deixa Bloco e PC a léguas e vai para o Governo. Mais, conquistou muitos votos novos, o que é um bom sinal para o futuro crescimento do partido.
E chega de vencedores.
Os dois grandes derrotados são o Bloco e o PS/Sócrates.
O Bloco perde votos, muitos, e perde deputados, muitos. Um desastre completo, que obriga, sem dúvida, a uma profunda reflexão sobre o seu futuro enquanto movimento político. Creio que, nada sendo feito, há mesmo um sério perigo de extinção a médio prazo.
E depois Sócrates. Esta é a sua derrota, mais do que toda a gente. Lutou até onde pôde, com todas as armas, sobretudo as mais sujas, já que não tinha muitas outras. Sai pela porta pequena, com uma votação fraquíssima. A cara de pau, a mentira e a hipocrisia não chegam para tudo, mesmo que consigam enganar muita gente. Quanto a Sócrates, fico por aqui. Reservo para os próximos dias um texto totalmente dedicado a este grande filho da puta, com todo o respeito pela senhora sua mãe.
Há também que referir a derrota do PS. Ligada à de Sócrates, mas de natureza diferente. Perdeu porque se perdeu enquanto partido. Porque insistiu no autismo, na via única. Elevaram Sócrates aos céus numa cerimónia digna da IURD, e pagam agora o preço. Com um bocadinho de jeito do outro lado, o PS arrisca-se a passar oito anos sem tocar na chincha.
E há o PC, em quem eu votei. Que, como habitualmente, diz que ganhou. Não ganhou, perdeu. Subiu uma décima, creio, mas perdeu. Uma conjuntura em que o FMI entra em Portugal, com tudo o que a isso está ideologicamente associado, teria necessariamente de ser campo fértil para o crescimento da CDU. Aguentou-se, manteve-se, e insiste estupidamente no discurso de vitória. Não chega.
A vitória, a grande vitória, não foi de nenhum partido: foi da troika. Os 3 partidos que apoiaram as medidas da troika (ainda que o PS tenha fingido que não tinha nada a ver com o assunto) têm quase 90% dos votos expressos. E isto significa que os portugueses - pelo menos os que foram votar - querem mudança e admitem que a mudança vai nesse sentido. Os dois partidos que cometeram a estupidez de nem sequer se sentar com a troika são, agora, quase irrelevantes a nível parlamentar.
A verdade é que a Direita subiu, e a Esquerda não. O PS caiu, mas os dois partidos à Esquerda não conseguiram ganhar minimamente com uma transferência dos votos do PS. Ou foram para a Direita, ou pura e simplesmente não votaram, mais esta última. E isto passou-se com o PS e, em menos escala, com o Bloco. Ou seja, votos da Esquerda que, simplesmente, se evaporaram.
Não houve motins em Portugal por causa do FMI, e isso é porque as pessoas sabem que é preciso mudar de vida e sabem que os partidos do poder, nomeadamente o PS, nunca o quereriam fazer. Cabia à esquerda, ao Bloco e ao PC oferecer uma alternativa nesse mudar de vida. Mas não o souberam fazer, ou pelo menos não de forma convincente.
Os portugueses querem a troika. Os portugueses amam a troika.
Os portugueses querem mudança, nem que seja assim, à bruta. Quem não lhes deu uma via, uma esperança de mudança, foi castigado. Às vezes, não chega dizer não. E esta foi uma dessas vezes.
Notas soltas:
- o verdadeiro pontapé na boca que o Miguel Sousa Tavares mandou ao Tozé Seguro, quando este anunciou, de forma trapalhona e titubeante, a sua candidatura. Está certo que o rapaz é assim meio parvo e meio mole, e meio inábil e tudo, mas aquela agressividade toda do comentador cheira a qualquer coisa de pessoal.
- As "balls of steel" da jornalista da Renascença que, em pleno Altis e rodeada de xuxas a espumar da boca, fodeu o Socas com a pergunta de se ele temia que, agora que está fora do poder, os processos judiciais voltassem a atormentá-lo
- o clima de fanatismo quase religioso e de completa negação, de cabeça perdida, com que os mesmos xuxas aplaudiram o Socas, o coveiro do PS
- o facto de dois jornalistas da TVI terem sido empurrados por seguranças de José Sócrates contra uma porta de vidro, indo parar ao hospital. Ao ouvir o barulho pensei que fosse a mona do Sócrates que não entrava no átrio, mas infelizmente foi algo mais grave...
- o discurso positivo e unificador de Passos Coelho, quando eu esperava, aliás ansiava, uma revanche contra Sócrates
Nos próximos dias teremos os próximos capítulos, sempre aqui, no tasco mais infecto deste Portugal alaranjado. Até lá.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
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2 comentários:
juntar jornalistas e TVI na mesma frase só pode ser piada
A tentativa mal amanhada de simular um encontro espontâneo à saída do elevador foi absolutamente patética.
Todos os canais haviam já assumido que “António José Seguro quer fazer uma declaração aos jornalistas quando descer do elevador”.
Se é isto que o futuro nos reserva, a republica encontra-se mesmo em contagem decrescente.
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