Eu confesso, até acho piada ao estilo do Vítor Gaspar. Tirando o facto de ele me ir ao bolso de cada vez que abre a boca, acho-o uma lufada de ar fresco na nossa política das últimas décadas, feita de artistas de variedades e de vaidozões inveterados.
Mas, na entrevista que deu hoje à SIC, há pelo menos uma coisa a lamentar. Falou, falou, falou, e eu não o consegui ver, sequer, a defender algumas das medidas que tanto nos penalizam no imediato. Para tudo, a mesma desculpa: isto estava previsto no memorando da troika. Foi sempre como se dissesse sempre "mas que raio estavam vocês à espera?". Para o Gaspas, os portugueses lêem todas as noites, antes de dormir, o memorando da troika. Como tal, sabem tudo o que se vai passar e não podem ser surpreendidos. Como economista ortodoxo que é, considera que uma informação que é pública - mesmo que escrita em troikês - é imediatamente apreendida pelo "mercado", que se ajusta automaticamente à nova informação. Infelizmente para ele, estamos a lidar com pessoas e não com bancos de investimento.
Em todas as perguntas sobre impostos, a resposta era a mesma: estava previsto na troika; os cortes nas despesas sociais, previstos na troika; o fim da vaselina, foi a troika.
Que eu saiba, quem manda neste país ainda é o Governo português. O que eu gostaria de ver era o nosso ministro das Finanças explicar-se, e aplicar medidas que ele acredita serem as melhores. Como cidadão e, sobretudo, como contribuinte, não me chega dizer que me estão a ir ao cu mas que foi a troika que mandou. Gostaria de ouvir o ministro das finanças dizer se acha bem, se acha útil, se acha produtivo, estar a ir-me ao cu.
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