Governar Portugal deve ser uma coisa lixada. Os partidos do eixo do poder têm cronicamente sonhos molhados com as maiorias absolutas ou, quando se juntam com outro, uma "maioria de incidência parlamentar", que é a mesma merda mas com outro partido.
Eu sou, por natureza, contra as maiorias absolutas. O Parlamento serve para alguma coisa, para fiscalizar a actuação do Governo. Ora com as maiorias absolutas o Governo caga de alto para o Parlamento. Mas também sei que o inverso é difícil. Sem maioria, os deputados tugas estão sempre a bloquear e chatear e o camandro.
Ou seja, infelizmente em Portugal só há uma maneira de um Governo avançar com o seu programa, com maioria absoluta. Mas a verdade é que o político indígena não sabe agir como deve ser nessas circunstâncias, e acabamos sempre com o abuso, que costumo chamar de "táctica Sócrates".
Que, parece, tem novos seguidores.
Na última semana, tivemos dois exemplos de como esta nova maioria rapidamente ganhou os tiques da antiga.
Primeiro foi o chefe das Secretas. No meio deste absoluto escândalo nacional sobre as escutas a jornalistas incómodos e sobre a passagem de informações do Estado para empresas privadas, a maioria PSD/CDS chumbou a audição do responsável máximo pelas Secretas portuguesas. Anunciaram-se uns inquéritos, e tal, para tudo ficar na mesma.
No caso da passagem de informações à Ongoing, também houve um inquérito interno, cujas fantásticas conclusões já são conhecidas: houve passagem de informações de Jorge Silva Carvalho à Ongoing, mas não eram matérias de Estado. Foram conseguidas com meios do Estado, pagos por todos nós; não sabemos como foram conseguidas, legal ou ilegalmente; não sabemos sequer que informações foram essas. A conclusão? Não se passou nada. Ninguém foi acusado e nós, o Povo, o Estado, não sabemos nada do que se passou. E agora, com um jornalista espiado pelo Estado, o responsável máximo não será ouvido, por não ser "oportuno".
O segundo caso deu-se hoje. O PS pediu para ouvir Álvaro Santos Pereira, esse cruzamento entre o Paul Giamatti e Dennis o Pimentinha, que dizem que é Ministro de uma coisa inexistente em Portugal, que é a Economia. Queriam ouvi-lo por causa do TGV, e com razão. Este senhor foi a Madrid, há menos de um mês, dizer o impensável: quanto ao TGV, Portugal anuncia em Setembro a sua decisão.
Mas qual decisão, foda-se?! Atão não era para parar?! Não é evidente para toda a gente (excepto para as construtoras) que tem de parar?! O próprio PSD não se fartou de clamar que tinha de ser cancelado??!?!
Pois.
E depois da triste figura que o nosso ministro sem pasta fez em Madrid, o que diz a maioria PSD/CDS? Que "não é oportuno" ouvir agora o senhor.
Porreiro, pá.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário