terça-feira, 11 de setembro de 2012

Em nome do pai

Amigo Pedro,

aqui há uns dias escreveste uma coisa no Facebook, para explicar melhor o facto de, numa penada, teres baixado o salário de 70% dos portugueses e de teres conseguido ser o primeiro gajo, em 40 anos, a descer o salário mínimo.
Li a tua missiva com atenção, como podes calcular. Afinal, eu trabalho 11 horas por dia, tenho duas filhas para criar, e o meu salário custa muito a ganhar. E, talvez por ingenuidade, não fazia ideia de que tu eras dono do meu salário, e que com ele podias fazer o que bem entendesses. Creio que compreendes o meu interesse.
E registei quando tu disseste o quanto te doeu dar estas notícias ao país. Sabes, fiquei solidário contigo, Pedrito. Contigo e com o Ronaldo, que diz que também anda um bocado triste.
Apreciei particularmente quando, falando enquanto pai, explicaste que fazes isto agora, nos impões estes sacrifícios, para que não tenham de ser os nossos filhos a suportá-los.
E é em nome deles que te quero agradecer.
Em nome dos filhos cujos pais não vão conseguir pagar a prestação da casa.
Em nome dos filhos cujos pais não vão poder pagar os livros da escola, ou a mensalidade, ainda por cima num momento em que tu fechas escolas e despedes professores, diminuindo o acesso digno à escola pública.
Em nome dos filhos que, afinal, já não vão poder ter um aparelho para endireitar os dentes, ou mudar de graduação dos óculos com a frequência recomendada.
Em nome dos filhos que vão passar a viver numa casa tomada pelo drama de não ter dinheiro para pagar tudo o que é preciso.

Obrigado por poupares os nossos filhos aos sacrifícios. A gente aguenta, Pedro, nós já somos gente grandinha. Mas as crianças, lá está, tens toda a razão, há que poupá-las a tudo isto.

Por isso, o meu muito obrigado, Pedro.

E não fiques triste, pá. Deixa lá isso. Vai ao teatro, ou a um concertozito, que isso passa.

1 comentário:

O Romano disse...

Era pô-lo num saco fechado com cães gatos, ratos e cobras. Só cinco minutos.