sexta-feira, 16 de abril de 2004

Ai Pacheco

Pacheco Pereira surgiu (eu sabia que o iria fazer!) a criticar Durão Barroso por ter almoçado com José Saramago.

Tendo-se, há 12 anos, demarcado da posição do Governo de então, considera hoje Pacheco que Durão Barroso não deveria ter promovido um encontro com quem vem desenvolvendo a “teoria antidemocrática do voto em branco”.

Pergunto-me se não andará meio mundo completamente imbecil ou cego ou surdo já que é para mim claro e audível que Saramago não defende o voto em branco. Tanto assim é que é ele próprio membro de um partido político, integrando, mesmo, a lista deste para as eleições europeias!

Embora denominado de ensaio, o livro não é, nem quer ser, uma tese.
O que Saramago pretende não é, como diz Pacheco Pereira, fazer doutrina antidemocrática.
Bem pelo contrário!, Saramago (ao contrário do preconizado por Pacheco Pereira) reclama há anos o aprofundamento das democracias a níveis que vão para lá dos actualmente constatados, isto é, que o sistema político não se preencha simplesmente pela legitimação da origem do poder, via voto, e com isso se baste (“Até daqui a quatro anos!”).

Importará ainda assim dizer que o voto em branco não é antidemocrático, por mais que doa a Pacheco Pereira.
É tão democrático como qualquer outro voto.
Recomendável será para a verve de Pacheco Pereira a introdução de alguma contenção nos eivos tão anticomunistas que revela, sob pena de recair em básicos equívocos. Manifestamente antidemocráticos.

Pessoalmente (à semelhança de Saramago, Pacheco Pereira e muitos milhares de pessoas), sempre que chamado à urna, usei com decisão a esferográfica, mas daí até cair na presunção de achar mais democrático o meu exercício que o de outros votantes (votem eles em branco ou em laranja) vai uma imensa distância.

Estou certo que Saramago pensa o mesmo que eu. É isto a antidemocracia? Não creio.

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