domingo, 9 de maio de 2004

Bairro Alto Astral

Vamos lá fazer um exercício de imaginação.

Imaginemos que um jovem caminha por uma rua do Bairro Alto, no meio da confusão de sábado à noite, disposto a ir divertir-se com os amigos. Em vez de usar os passeios exíguos, onde só cabe um pé de cada vez, caminha pela estrada. Nisto aparece uma carrinha conduzida pela proprietária de um restaurante que se encontra na mesma rua. A senhora cansada de um dia de trabalho quer, justamente, despachar-se e ir descansar para casa porque amanhã provavelmente terá mais um dia de estafa, por isso buzina para que o jovem saia da frente.

Imaginemos então que o jovem, do alto da presunção juvenil de que são donos do mundo, diz: "Passa por cima, puta!" e para agravar as coisas, ainda bate com a mão na carrinha. A senhora sai do carro e, tal padeira de Aljubarrota, tenta recuperar a dignidade que jaz por terra arreando valentes chapadões no jovem que procura afastá-la, com uma calma quase inexplicável, evitando responder com a mesma violência. Coisa que muito boa gente, diga-se de passagem, não conseguiria ter evitado. Mas como a honra não é coisa que se lave com três ou quatro chapadas a senhora grita para o restaurante por ajuda, é então que de dentro do estabelecimento saem dois pitbulls raivosos, que um dia a senhora teve a triste ideia de dar à luz e que num ápice, sem perguntas, jogam-se ao jovem deixando-o com o nariz à banda e com mais uns socos na cara. Alguns bons samaritanos decidem apartar a briga, o jovem continua sem reacção, não discute, não tenta se virar aos agressores, apenas continua o seu caminho, segurando o nariz que sangra, cambaleando pela rua, enquanto os dois cavaleiros do apocalipse gritam: "Se voltas a tocar na minha mãe, mato-te! Na minha mãe ninguém bate!"

Imaginemos agora que isto afinal não foi imaginação, que aconteceu ontem à noite, na Rua das Gáveas, local da famosa Ginginha e que o restaurante em questão é o Restaurante O Cedro. Confesso que não vi o que o jovem fez para deixar a mulher tão irada, só me apercebi da confusão quando o rapaz já comia a segunda estalada da dita senhora, mas mesmo que lhe tenha chamado puta ou qualquer coisa reprovável do mesmo género, nada, mas nada mesmo, justifica a violência desmedida que ocorreu a seguir e que poderia ter tido consequência muito mais graves. Quem assistiu como eu, de certo que nunca irá meter os pés nesse restaurante propriedade de uma família de bárbaros, grunhos, acéfalos.

São muitos os proprietários de estabelecimentos comerciais do Bairro Alto que se queixam da insegurança que existe na zona, gostaria de saber a opinião dessas pessoas sobre este caso e não me admiraria mesmo nada que muitos aprovassem a atitude. Porque embora sejam os jovens que continuam a garantir a sobrevivência económica do Bairro Alto, também são eles o bode expiatório de todos os males.

Quanto ao Restaurante O Cedro, caros leitores, aconselho a que não metam lá os pés. Não vá alguém se queixar de um garfo sujo ou de umas batatas fritas frias e saia de lá com uma valente indigestão. Além disso o co-blogger Idle Consultant ja teve o azar de lá ir comer um Arroz de Polvo mais salgado que o Mar Morto, que pode não provocar hematomas mas mete a tensão arterial no "red line".

Como diria o grande Sérgio Godinho, "Espalhem a notícia..."

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