sexta-feira, 14 de maio de 2004

Balbúrdia no Oeste

Com as fotos da tortura de prisioneiros no Iraque, a tenda finalmente pegou fogo. A máscara da pseudo-superioridade moral dos americanos, que sempre esteve e está no subconsciente de tropas e responsáveis, tinha de se denunciar. Nada de novo.
Mas algumas coisas merecem alguma reflexão.
Em primeiro lugar, não foram acontecimentos pontuais. Um país que se arroga o papel de líder do mundo, que pode, deve e quer dizer aos outros como viver, não pode ver de qualquer outra forma os cidadãos de outros países e, ainda menos, de outras culturas.
A não adesão ao Tribunal Penal Internacional não foi uma coincidência. Foi uma opção deliberada para retirar os soldados americanos do escrutínio do mundo, mandando-lhes a mensagem de que, basicamente, podem fazer tudo o que quiserem. Afinal, eles são americanos, pá!
Em Guantanamo, de onde ainda não surgiram sequer fotos, centenas de pessoas estão presas sem acusação formada, sem direito a visitas, sem que o seu nome ou a sua situação seja conhecida.
O que se passou no Iraque não faz dos EUA piores que os iraquianos fundamentalistas que cortam cabeças. Mas mostra a arrogância de quem acredita ter o direito de mandar no mundo, como muito bem entender. Mostra sobretudo que a suposta superioridade moral, baseada nos chavões da democracia, da liberdade e dos direitos humanos, é, no caso dos EUA, uma falácia.
Bush pôs o corpo fora através de Rumsfeld, o seu colaborador mais próximo, que já se lamentou, mentindo, de não ter informado o presidente. Assim, Rumsfeld é que é o mau, Bush não sabia de nada e de nada tem culpa, apesar de ser o supremo comandante das forças armadas. As eleições estão aí....
Mesmo a custo, Rumsfeld é descartável. Se cair, daqui a poucos meses estará na administração de uma grande empresa, como já esteve. Tudo calmo......
Entretanto, adensa-se o circo mediático à volta das fotos. O fundamental perdeu-se, agora é o espectáculo, o advogado da soldado Lynndie England a dizer que, na foto em que ela conduz pela trela um prisioneiro iraquiano, não há tortura porque não é evidente que ela estivesse a fazer força na trela.
A senhora alega que estava apenas a cumprir ordens, e tinha já começado o processo da sua lavagem de carácter quando, azar dos azares, apareceram novas fotos da senhora em grandes sessões de sexo em grupo na prisão.
Querendo fazer-se um juízo moral, os EUA são uma nação obviamente podre. Mas não creio que esse juízo se deva fazer. Esse é o jogo norte-americano, que volta a morder-lhes no rabo.

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