segunda-feira, 17 de maio de 2004

Mau perder

Assumindo a barbárie da condição do meu fanatismo pelo desporto da bola, aqui vai.
Estou feliz, meus amigos. O Glorioso, oito anos depois, lá ganhou qualquer coisa, uma Taça de Portugal. Não é o campeonato, mas também não convém encher a barriga de uma só vez, depois de tanto tempo de jejum.
Quanto ao jogo, a leitura parece-me simples: um jogo muito equilibrado, em que venceu quem marcou no prolongamento. Podia ter caído para qualquer lado, mas caiu para o nosso, e ainda bem.
Para além das escaramuças nas imediações do estádio, lamentáveis num dia que se queria fosse de festa, uma criancinha birrenta tentou estragar a festa. Foi um senhor Mourinho, muito Mouririnho mesmo, aquele que, na sala de imprensa, decidiu culpar o árbitro por uma derrota que, como tantas vezes acontece no futebol, sorriu à equipa que mais acreditou e que, num momento de crença e felicidade, meteu a redondinha na rede.
Num exercício puramente Kafka/Dias da Cunha, Mourinhinho culpou o árbitro, "uma farsa", esquecendo-se que farsa foi a falta que deu origem ao golo do FC Porto e os mergulhos de Deco e companhia à entrada da área.
O que leva alguém que ganhou tudo o que havia para ganhar, é campeão e finalista da Liga dos Campeões, a portar-se daquela maneira mimada e anti-desportiva? Um problema de carácter, só isso.
Deixem-nos festejar a nossa Taça, que há oito anos não víamos o padeiro e não sabemos quando vamos voltar a ver. Não precisamos de trinta troféus por ano para dizermos que existimos e que gostamos de um clube centenário e respeitável. O Porto já ganhou o campeonato e há de ganhar mais, porque é realmente a melhor equipa portuguesa. Mas ontem não foi, e nem mesmo a melhor equipa ganha sempre.
Deixem-nos gozar a nossa taça, sem a inveja de quem, por puro mau perder, não suporta ver os outros ganhar, ainda que de vez em quando.
Pela primeira vez com sinceridade, desejo toda a sorte ao FC Porto na final da Liga dos Campeões. São uma grande equipa e merecem ganhar, desde que estejam preparados para saber perder, se por infelicidade isso acontecer.
E agora, com a felicidade de ver milhares de portugueses nas ruas, tomando as cidades como se fossem realmente suas, deixem-me dizer:

Viva o Benfica!


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