quarta-feira, 4 de agosto de 2004

O Crime Perfeito

Na rua detrás não se passa nada...

Tinha ouvido dizer e na sua inexperiência vilanesca logo chegou à conclusão que seria o sítio ideal para encontrar a sua primeira vítima. Esperava na ombreira de uma porta, de um dos prédios abandonados que teimavam em se manter em pé, ignorando todas as leis da física.

A rua não era muito mais que isso, aglomerados decadentes de cimento no meio da sujidade suburbana. Ao fundo da rua, estava a antiga garagem Rodas & Escapes, o único espaço comercial que vingou por algum tempo, o tempo da polícia descobrir que o negócio era uma fachada para o tráfico de chihuahuas mexicanos. É claro que a longa fila de velhas que se formava todos os dias à porta deu para desconfiar, para quem, muito dificilmente, tinha visto um carro na vida a hipótese de terem um que precisasse de qualquer tipo de arranjo era, no minímo, impossível.

Em duas horas de espera a única coisa que cruzou fugazmente o seu olhar foi um par de ratazanas escanzeladas, tão magrinhas, mas tão magrinhas que até metiam dó. Puxou de mais um cigarro e a frase de quem espera que a nicotina faça milagres veio-lhe à cabeça: "Fumo mais este, pode ser que entretanto passe alguém..."

As coisas boas da vida aparecem quando menos se espera, também tinha ouvido dizer.

Mas na rua detrás não passa nada...

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