terça-feira, 26 de outubro de 2004

Carta aberta a Bagão Félix
Sr. Bagão Félix, escrevo-lhe pela sua qualidade de ministro das Finanças, ou seja, a pessoa que está encarregue de arranjar receitas para o Estado, que supostamente somos todos nós.
O pretexto é uma desagradável cartita que recebi dos seus serviços, informando-me de uma pseudo-dívida fiscal que a minha humilde pessoa terá para com voxelência. Não me recuso ao seu pagamento, afinal não quero privar os meus concidadãos dos 20 contos que o senhor diz que eu devo.
No entanto, gostaria de clarificar algumas situações.
Enquanto trabalhador por conta de outrém, desconto todos os meses uma pipa de massa para impostos. Pago sempre a horas, porque não tenho outro remédio e porque acredito que todos devemos contribuir para o bem comum.
Agora, o senhor vem-me dizer que eu tenho uma dívida de 20 contos, que bem falta me fazem. 20 contos que, supostamente, eu lhe devo desde 2001, embora nunca ninguém me tivesse falado nisso antes.
Não me tentaram cobrar eesa dívida até aqui, acredito que por mera distracção e não pelo interesse em fazer contar os juros e transformar um montante irrisório nestes 20 contos, que sempre me davam para comprar uma boa quantidade de ganza e renovar algumas garrafas mais desfalcadas lá de casa.
E tenho outro problema, sr. Cagão Feliz.
Mato-me a trabalhar todos os dias, desconto tudo a tempo e horas. Como não tenho um contabilista, como voxelência concerteza terá, o meu reembolso de IRS ficou-se por uns míseros 40 contos. É pouco, mas são 40 contos que o sr. guardou indevidamente durante um ano, e depois mos devolve, sem direito a juros, nem nada, para um mês depois me vir sacar METADE desse valor por uma dívida fantasma que caiu do céu aos trambolhões.
Já percebi que, em Portugal, o truque é fingir de morto. Não dizer nada às Finanças, empochar a massa toda e siga para bingo. Quem não se denuncia, não se colecta, etc, não é incomodado. Quem faz o que tem a fazer, cumpre a lei e paga os seus impostos, é roubado.
Caro senhor Cagão Feliz, eu preciso desse dinheiro. Tenho renda para pagar e copos para beber. Veja lá que eu, benfiquista como o senhor, nem dinheiro tenho para ir ver o nosso Glorioso na nova Catedral!
Caro senhor Cabrão Feliz-com-ele-no-cu: o senhor é um ladrão, um chupista do povo, um filho da puta que tira a quem trabalha e deixa descansadinhos os seus amigos que, com toda a certeza, têm muito mais dinheiro do que eu.
Como tal, respeitosamente, vá-se foder.

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